
O consumo de bebidas alcoólicas entre mulheres aumentou de forma expressiva nas últimas décadas. Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) e de estudos realizados em diversos países, o uso abusivo de álcool por mulheres triplicou nos últimos 40 anos. O que antes era um comportamento socialmente restrito aos homens se tornou comum também entre elas, impulsionado por transformações culturais, econômicas e emocionais.
Durante boa parte do Século XX, o ato de beber era associado à masculinidade. À mulher cabia a imagem da moderação e da responsabilidade. Com o avanço da emancipação feminina e a conquista de espaços, essa lógica mudou. Beber passou a representar liberdade, autonomia e poder. A mulher que consome vinho após um dia de trabalho ou participa do happy hour passou a ser vista como moderna e independente. O marketing e a cultura de entretenimento ajudaram a reforçar essa imagem, transformando o álcool em um símbolo de sucesso e sofisticação.
Por trás desse comportamento há uma realidade preocupante. A mulher contemporânea, apesar das conquistas, acumula pressões e responsabilidades. Ela trabalha fora, cuida da casa, dos filhos e ainda enfrenta cobranças estéticas e profissionai, e álcool surge como um alívio temporário para o estresse e a ansiedade. Pesquisas mostram que muitas mulheres relatam beber não apenas por prazer social, mas para relaxar e lidar com tensões emocionais.
O corpo feminino, porém, reage de forma diferente ao álcool. Por questões biológicas, a absorção é mais rápida e os efeitos são mais intensos, o que aumenta o risco de dependência e de doenças relacionadas, como cirrose, depressão e até câncer de mama e de fígado. Médicos alertam que, mesmo em quantidades menores, o impacto pode ser mais severo do que entre homens.

As consequências sociais também são evidentes. O aumento do consumo abusivo tem relação com episódios de violência, acidentes e problemas familiares. Especialistas apontam que o fenômeno exige atenção das políticas públicas de saúde, tanto na prevenção quanto no tratamento. A dependência feminina tende a ser mais silenciosa, muitas vezes mascarada pelo medo do julgamento e pela vergonha de buscar ajuda.
O que para algumas representa liberdade pode, para outras, ser sinal de frustração. A taça de vinho ao fim do dia pode simbolizar autonomia, mas também pode esconder exaustão e solidão. O crescimento do consumo de álcool entre mulheres revela não apenas uma mudança de comportamento, mas também o peso de uma sociedade que exige perfeição e resiliência constante.
A fronteira entre liberdade e fuga emocional é tênue. Entender essa transformação é fundamental para que o debate sobre o uso do álcool vá além do moralismo ou da celebração da “mulher moderna”. Mais do que um hábito, o aumento do consumo feminino de bebidas alcoólicas é um espelho das contradições do nosso tempo.


