
Hospitais brasileiros e estudos internacionais têm mostrado uma realidade que antes era considerada rara: cada vez mais jovens estão sofrendo infartos e acidentes vasculares cerebrais (AVC). Dados do Ministério da Saúde indicam que, somente de 2022 a 2024, mais de 234 mil atendimentos por infarto ocorreram em pessoas com menos de 40 anos, resultando em, ao menos, 7,8 mil mortes nessa faixa etária. No campo dos AVCs, a Rede Brasil AVC estima que aproximadamente 18% dos casos já atingem adultos de 18 a 45 anos, um dado que contrasta com a antiga percepção de que esses problemas eram exclusivos de idosos.
A tendência não é apenas brasileira. Um estudo publicado em The Lancet Neurology apontou que, em escala global, os AVCs vêm crescendo em faixas etárias mais jovens, especialmente de 15 a 39 anos. Isso significa que, em diferentes regiões do mundo, a doença passou a atingir um público que, até pouco tempo atrás, estava fora do radar das campanhas de prevenção. No Brasil, o mesmo movimento é percebido em análises de internações do SUS: o número de jovens adultos hospitalizados por síndrome isquêmica cardíaca vem aumentando ano a ano.
Especialistas explicam que as causas são múltiplas e, em grande medida, ligadas ao estilo de vida. A obesidade, o sedentarismo, a hipertensão arterial e o diabetes tipo 2 (doenças tradicionalmente associadas a idosos) passaram a aparecer mais cedo, em parte devido ao consumo crescente de ultraprocessados e à falta de atividade física regular.
O uso de drogas estimulantes, como a cocaína, e de anabolizantes também é apontado como um fator de risco importante para infartos em jovens sem histórico cardíaco.
Médicos ainda ressaltam os efeitos da pandemia: a infecção por COVID-19 pode aumentar o risco de tromboses, miocardites e complicações cardiovasculares, elevando o perigo mesmo para quem não tinha diagnóstico prévio de doença cardíaca.

Um ponto que gera debate público é a possível relação com vacinas contra a COVID-19. Segundo órgãos internacionais de saúde e revisões científicas, os imunizantes de mRNA têm um risco pequeno de causar miocardite em homens jovens, mas os especialistas destacam que a própria infecção pelo coronavírus representa um risco muito maior para o coração.

O aumento de infartos e AVCs em jovens exige novas estratégias de saúde pública. Campanhas de prevenção que antes se concentravam em idosos precisam mirar adolescentes e adultos de 20 a 40 anos, com foco em alimentação saudável, prática de exercícios, controle da pressão arterial e do colesterol, além da redução do consumo de álcool, cigarro e drogas ilícitas.
Para os especialistas, reconhecer os sinais precocemente, como dor no peito, falta de ar, perda súbita de força ou dificuldade para falar, é fundamental para salvar vidas.
O alerta está dado: se os dados mostram que um em cada cinco casos de AVC já atinge pessoas de até 45 anos, e que centenas de milhares de jovens têm infartos registrados nos hospitais, a prevenção precisa começar cada vez mais cedo. A ideia de que problemas cardiovasculares pertencem apenas à velhice ficou para trás, e a juventude brasileira já sente, na pele e no coração, o peso dessa mudança.


