*Marcos Machado
Ou, quando o parsa vira a vítima do golpe.
Jura que você esperava algo diferente? Jura? Sério, mesmo? Ninguém pode ser tão otário!
Meu amor, o golpe do amor “estava escrito nas estrelas, estava sim”, como cantou a Tetê Espindola, no Festival dos Festivais, em 1985. O amor venceu e o seu dinheiro se escafedeu…
O currículo era extenso, bem detalhado, uma ficha corrida enorme, mas você preferiu a máxima da lei de Gerson, aquela da propaganda do cigarro Vila Rica, em 1976, que induziu o brasileiro a gostar de levar vantagem em tudo… Ah! Você é do tempo que atleta fazia propaganda de cigarro e médico até receitava para atenuar o estresse… Um cara ‘esperto’, só que não.
O que você queria era levar vantagem, como explicou uma amiga pouco antes da eleição, sobre os altos índices de preferência em uma área de baixa renda bem perto de Brasília. “O que ouço individualmente, é que com ele a pessoa vai ter mais benefícios, vai se dar bem”, esclarecia. Enfim, só cai em golpe quem se acha esperto, não é mesmo? Isso, meu pai me ensinou quando eu ainda era criança.
“Gosta de levar vantagem em tudo”, não é mesmo?
Eu avisei, um monte de gente avisou, mas a possibilidade do ganho fácil seduziu a maioria. A sedução do ganho fácil, ou da vingança contra um sistema que nunca funcionou para você, foi maior. “Gosta de levar vantagem em tudo”, não é mesmo? E assim, como num passe de mágica, acreditou que “com ele” tudo ia melhorar. Não para o país, para você. Você, indivíduo, CPF, esperto.
É claro que a regra da generalização não se aplica. Tem gente que resistiu, que lutou, que votou contra e ainda assim foi atingida. Esses, sim, são vítimas legítimas.
Você, meu caro parsa do verdadeiro golpista, que se achou esperto, está aí, abrindo o contracheque e xingando o amor que você mesmo aplaudiu. Bem-vindo ao clube dos otários sinceros, aquele que só descobre o golpe quando a conta chega para o próprio pagar.
Esclarecendo:
‘Parsa’ é a contração de comparsa, adjetivo utilizado no submundo do crime para identificar o cúmplice, que desempenha papel geralmente secundário no crime. É o coautor do delito. Tem boleiro que diz que se refere a parceiro, mas boleiro é boleiro…
Gerson, o “canhotinha de ouro” da seleção brasileira de futebol, tricampeão na Copa de 1970.
*Jornalista profissional diplomado, editor do portal Do Plenário, escritor, psicanalista, cientista político ocasional autoproclamado, analista sensorial, enófilo, adesguiano, consultor de conjunturas e cidadão brasileiro protegido (ou não) pela Constituição Brasileira