
Enquanto militantes e políticos de esquerda esperneiam em críticas à recente megaoperação policial que resultou na morte de mais de uma centena de traficantes, e de quatro policiais, no Rio de Janeiro, nas favelas (comunidades) a percepção é surpreendentemente diferente e favorável. De acordo com levantamento da AtlasIntel, divulgado pelo Terra, cerca de 80% dos moradores de favelas afirmaram aprovar a ação das forças de segurança, que teve como alvo facções criminosas que controlavam áreas inteiras da capital e da Baixada Fluminense.
Os números contrastam com a narrativa de militantes, políticos de esquerda e de uma parcela da imprensa, onde a operação foi criticada por suposto excesso de força e falta de planejamento. No entanto, para quem vive sob o domínio cotidiano do tráfico, a ação representou um alívio e uma resposta esperada do Estado. “Quem mora aqui sabe o que é ouvir tiro todo dia. A polícia precisa vir, porque se não vier, o crime toma conta”, disse um morador da comunidade da Penha, que, por razões óbvias, preferiu não se identificar.
O levantamento mostra ainda que, no conjunto do estado do Rio de Janeiro, 68,85% dos fluminenses, incluindo moradores da capital e do interior, aprovam a megaoperação, segundo pesquisa da Arrow Pesquisas. O índice revela um apoio expressivo à ação, especialmente quando comparado à média nacional, em que pouco mais da metade dos entrevistados manifestou concordância com a intervenção. As negativas, naturalmente, ocorreram por desconhecimento da realidade vivida nas favelas.

Entre as principais razões apontadas pelos entrevistados das comunidades, estão o desejo por segurança, retomada do território pelo Estado e fim da sensação de abandono. Muitos destacaram que, embora o medo de confrontos exista, o poder armado dos criminosos representa uma ameaça ainda maior.
Especialistas em segurança pública interpretam o dado como um indicativo de que a população das favelas não é, como frequentemente se supõe, contrária à presença policial. “O apoio majoritário mostra que o morador quer a polícia, quer o Estado, mas de maneira constante, não apenas em operações pontuais e midiáticas”, explica o sociólogo e pesquisador em violência urbana Paulo Barroso.
Ainda assim, a operação — que deixou mais de uma centena de mortos, segundo dados oficiais — reacendeu o debate sobre os limites do uso da força e a eficácia das ações repressivas no combate ao tráfico. Para as autoridades, o resultado representa um golpe contra as facções; para os moradores, uma pausa momentânea na rotina do medo.
Entre aplausos e críticas, o fato é que o apoio massivo das favelas à operação desafia estereótipos e questiona a narrativa tradicional de que as comunidades seriam redutos de resistência à polícia. Ao contrário: os dados mostram que o anseio por segurança e ordem vem, com mais força, justamente de quem mais convive com a violência cotidiana.


