
A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) anunciou na sexta-feira (31) a manutenção da bandeira vermelha patamar 1 para o mês de outubro. A decisão significa que os consumidores continuarão pagando um adicional de R$ 4,46 a cada 100 quilowatts-hora (kWh) consumidos. Embora o valor possa parecer pequeno, ele representa um peso considerável no orçamento das famílias de baixa renda, especialmente em um cenário de alta no custo de vida e estagnação da renda. Para uma casa que consome 200 kWh por mês — média entre famílias de perfil popular —, o acréscimo na fatura chega a quase R$ 9, valor suficiente para comprar um litro de leite ou um pacote de arroz.
A bandeira vermelha é acionada quando o custo de geração de energia aumenta, geralmente por conta da menor disponibilidade de hidrelétricas e da necessidade de ativar termelétricas, mais caras e poluentes. No entanto, a cobrança recai de forma desigual: o governo mantém discursos de amparo às famílias de baixa renda, mas transfere ao consumidor final o custo da má gestão do sistema energético e da falta de investimentos estruturais. Na prática, quem consome menos acaba pagando proporcionalmente mais, já que a sobretaxa incide igualmente sobre cada 100 kWh, independentemente da faixa de renda.

Diante desse cenário, economizar energia é uma questão de sobrevivência financeira. Pequenas mudanças de hábito podem gerar diferença real na conta de luz. Reduzir o tempo de banho, preferindo a água fria quando possível, é uma das medidas mais eficazes, já que o chuveiro elétrico é o principal vilão do consumo doméstico. Evitar deixar lâmpadas acesas em ambientes desocupados, desligar a televisão quando ninguém estiver assistindo e substituir lâmpadas incandescentes por modelos de LED também ajudam. Outro ponto importante é retirar aparelhos da tomada quando não estão em uso, pois o “modo stand-by” consome energia continuamente, ainda que em menor quantidade.
O paradoxo é evidente: o mesmo governo que se apresenta como defensor dos mais pobres mantém uma estrutura tarifária que penaliza justamente quem mais depende de tarifas sociais e programas de transferência de renda. Enquanto as famílias de baixa renda se desdobram para pagar uma conta cada vez mais pesada, o país segue sem um plano consistente de transição energética acessível e sustentável. No fim do mês, o resultado é o mesmo: menos comida na mesa, menos conforto em casa e mais uma prova de que, no Brasil, a conta da ineficiência pública continua chegando primeiro para os mais vulneráveis.


