Marcos Machado

O Brasil continua mergulhado em um pântano na área de ensino que parece não ter fundo. Segundo os dados mais recentes do Indicador de Alfabetismo Funcional (INAF), apenas 10% dos brasileiros de 15 a 64 anos são plenamente proficientes em leitura, escrita e matemática. Outros 29% estão nos níveis mais baixos, “analfabeto” ou “rudimentar”, incapazes de compreender um texto simples ou realizar operações matemáticas básicas. Em termos diretos, quase um terço da população adulta não domina habilidades essenciais para a vida cotidiana.
A situação é alarmante e piorou em relação à última avaliação, quando 12% foram classificados como plenamente alfabetizados e 27% como analfabetos funcionais. Em vez de avanços, houve retrocesso. E o mais preocupante é a estagnação que se arrasta há duas décadas: o país não sai do lugar, enquanto outras nações avançam em inovação, ciência e pensamento crítico.
Grande parte das escolas públicas, reféns de políticas de ensino ineficazes, transformou-se em depósitos de jovens desmotivados, conduzidos por métodos ultrapassados e currículos que priorizam estatísticas de aprovação, não o aprendizado real. Some-se a isso uma doutrinação ideológica que troca o estudo sério por slogans, e o pensamento crítico por convicções pessoais camufladas de “educação libertadora”.

Essa decadência intelectual não é mero acaso. Há, no mínimo, um projeto conveniente de manutenção da ignorância. Uma população que lê sem compreender é mais fácil de controlar. A combinação entre uma educação medíocre e um entretenimento superficial produz o que se vê hoje: a imbecilização em massa. Programas de TV, redes sociais e grande parte da produção cultural reforçam o imediatismo e a histeria, substituindo o raciocínio pela reação, o conhecimento pelo achismo.
O filósofo Immanuel Kant escreveu que “o homem é o que a educação faz dele”. No caso brasileiro, essa frase é um alerta e uma sentença: a negligência com o ensino forja uma sociedade incapaz de pensar por si mesma. Uma sociedade que não pensa é facilmente manipulável nas redes, nas ruas e nas urnas.
A tragédia do ensino brasileiro é a tragédia de toda a sociedade. Alfabetizar não basta; é preciso ensinar a pensar, questionar e argumentar, verbalizar. Mas pensar dá trabalho, e governos, empresas e setores culturais preferem um público dócil, distraído e permanentemente entretido.
Enquanto a escola continuar a formar repetidores de conteúdo em vez de formadores de pensamento, e enquanto a ignorância seguir sendo conveniente aos que governam, o país continuará sendo o território dos diplomas vazios e das mentes cheias de nada.
*Jornalista profissional diplomado, editor do portal Do Plenário, escritor, psicanalista, cientista político ocasional autoproclamado, analista sensorial, enófilo, adesguiano, consultor de conjunturas e cidadão brasileiro protegido (ou não) pela Constituição Brasileira, observador crítico da linguagem e da liberdade


