Cássio Faeddo
“Simples assim” é uma expressão das redes sociais utilizada geralmente para finalizar a resolução de uma questão complexa de maneira simplista. É uma expressão que certamente marca nossos dias. Um chavão com certo ar de arrogância intelectual utilizado para sobrepor uma opinião sobre a dos demais interlocutores.
As manifestações marcadas para ocorrer em todo o país no dia 26/06 flertam com o “simples assim”. Estamos nas ruas e exigimos mudanças. “Simples assim”.
É certo que muitos tomaram gosto pelas ruas acreditando que um grande número de manifestantes possa conduzir os Poderes da República de acordo com seus interesses. Começou como tragédia e replicou como farsa.
Em 2013, nas primeiras manifestações, os gastos para realização de uma Copa do Mundo “Padrão FIFA”, em conjunto com a insatisfação pelo poder de compra em progressiva queda, levaram milhares, ou milhões, de pessoas às ruas.
Apesar da pauta difusa, era uma novidade empolgante. O efeito manada foi inevitável, mas pelo menos o movimento teve o mérito de causar algumas mudanças na legislação, como a lei anticorrupção, por exemplo.
Em 2015, a bandeira antipetista uniu a classe média e setores diversos de direita e ultradireita. Embora os organizadores afirmassem a não política, o tempo demonstrou o apreço destes pela política, e com muitos deles eleitos.
Porém, como em 2015 o intuito era derrubar o PT, tomar o poder e acabar com a corrupção, naquele momento não importava uma divisão séria dos grupos envolvidos, mas, um dia, a divisão ocorreria.
Agora, com o PT afastado do governo, em um cenário de digno de George Orwell em a Revolução dos Bichos, porém à direita, começam a ocorrer divisões. Essa fragmentação era esperada e talvez tenha chegado cedo demais, porém produz efeitos imediatos dentro do governo.
Alguns setores entendem que o chamamento de pessoas para uma nova manifestação possa ser inapropriado, um “tiro no pé”, como dizem; outros entendem como legítima e uma forma de pressionar as instituições. Um contraponto ao ocorrido em 15 de maio.
Porém, há uma enorme diferença estratégica. As manifestações de 15/05 tinham clareza e foco. Quem seria contra a Educação?
Quando se tem que explicar muito um tema, a tendência é perder-se no discurso. Não foi corte, foi contingenciamento, disse o presidente irritado. Afetaria uma elite intelectual, disse, em outras palavras. Ocorre que Educação é tema sensível, direito fundamental, e o equívoco ocorreu na forma de conduzir a administração e a divulgação do tema desde a fonte.
É muito fácil apontar o dedo quando se trata de educação, saúde, emprego, segurança, dentre outros temas difíceis.
Por qual razão política alguém resolveria medir forças contra uma pauta destas? Devemos reconhecer que sair às ruas em um ambiente com 13 milhões de desempregados e outros tantos com o estômago vazio é uma tarefa dificílima.
De qualquer forma, o governo deveria sair das ruas urgentemente, pois sua pauta não tem mais o condão necessário para motivar milhares de pessoas. Rua somente nas próximas eleições municipais, e somente no longínquo ano político de 2020.
Nem tudo está perdido. O presidente da república tem agora uma oportunidade rara de reconhecer quem compõe, de fato, sua base política. Pode prestar atenção para quem diz não. Quem lhe diz não pode ter uma mensagem mais construtiva do que um fácil sim.
E mais, o presidente não é Ramsés, e não foi escolhido por Deus, mas pela maioria da população que acreditou em seu discurso de lei e ordem. E diga-se que para ter lei e ordem não basta ter armas, mas comida na mesa e cabeça em paz no travesseiro.
Por fim, não se pode acreditar que exista qualquer risco de ruptura democrática patrocinado por nossas Forças Armadas por força deste evento intempestivo. As Forças Armadas já demonstraram, reiteradamente, responsabilidade e respeito às instituições.
Assim expomos, sem prejuízo de também pecar pelo “simples assim”.
Cássio Faeddo é advogado. Mestre em Direitos Fundamentais, MBA em Relações Internacionais – FGV SP.
(Di Comedy Assessoria)