Marcos Machado
É um momento penoso assistir a uma roda de comentaristas de televisão debatendo o assunto do dia. O espectador, coitado, sintoniza o canal esperando obter alguma informação, um fio de raciocínio minimamente coerente, mas o que recebe em troca é uma enxurrada de frases soltas, palpites sem fundamento e um espetáculo de autoindulgência intelectual. Há, naturalmente, raríssimas exceções que não mereceriam tal sofrimento público.
Assistimos ao patético desenrolar do fenômeno da substituição do pensamento pelo achismo.
O que se vê nesses programas, invariavelmente, sem generalizar, não é uma discussão informada, tampouco um esforço real de análise. Trata-se de uma dinâmica mais próxima de uma sessão de terapia psicanalítica em grupo, onde cada um vomita sua percepção pessoal num exercício de livre associação desconexa, sem qualquer necessidade de comprovação ou rigor lógico. “Eu acho isso”, “eu sinto aquilo”, “me parece que” – e assim segue o festival de subjetividades, enquanto a realidade se perde no meio do caminho.
A antiga máxima se confirma: quanto menos se sabe, mais se fala
A dissociação entre o que se fala e o que efetivamente ocorre é tamanha que, por vezes, a sensação que se tem é que os “analistas” não vivem no mesmo mundo que nós. Criam uma realidade paralela onde suas impressões pessoais têm mais peso do que fatos concretos, e nesse delírio verbal promovem uma verdadeira esquizofrenia informativa.
O problema, porém, não é apenas a ignorância, mas a pretensão. Esses comentaristas não reconhecem sua própria limitação, não têm o menor pudor em especular sobre temas dos quais nada entendem e, pior ainda, o fazem com uma arrogância olímpica, como se fossem oráculos infalíveis do mundo moderno. A antiga máxima se confirma: quanto menos se sabe, mais se fala.
Ao fim dessas rodinhas de conversa, o espectador não fica mais esclarecido, e sim mais confuso, e confusão não é informação. Confusão é o sintoma de uma sociedade que trocou o esforço intelectual pela tagarelice irresponsável.
Se há uma certeza em meio a esse mar de subjetividades, é esta: esses comentaristas falam muito, mas não informam nada. Essa é a verdadeira tragédia da considerada comunicação moderna.
*Jornalista profissional diplomado, editor do portal Do Plenário, escritor, psicanalista, analista sensorial, adesguiano, consultor de conjunturas e cidadão brasileiro protegido (ou não) pela Constituição Brasileira