Uma história que une laços familiares, paixão por café e políticas públicas que dão certo tem o poder de transformar toda uma comunidade. A família de Fernanda Eloise Sá de Andrade Ribeiro, do município de Caratinga, na região do Vale do Rio Doce, em Minas Gerais, é cafeicultora há pelo menos quatro gerações, com produtos de alta qualidade. Uma experiência de sucesso, que teve início com a assistência técnica da Emater-MG e culminou com o selo do Programa Certifica Minas, do Governo do Estado, em outubro do último ano.
A trajetória desta produtora rural, que remonta aos tataravós, foi destaque no Dia Mundial do Café, celebrado nesse domingo (14), e ilustra a dedicação aos cafés especiais produzidos na região das Matas de Minas, mais especificamente na microrregião de Terras Altas do Caratinga, reconhecida por um sabor naturalmente adocicado do grão.
A bisavó de Fernanda, Maria Claudina de Sá, carinhosamente conhecida como Maricota é quem dá nome à marca familiar. Seus pais foram os pioneiros a se estabelecerem na região, iniciando com uma pequena propriedade que, ao longo do tempo, evoluiu para uma renomada fazenda cafeeira.
“A minha bisa se casou e ficou viúva muito jovem, com um filho de um ano e oito meses. O meu avô viveu também ali na mesma terra. Com o passar do tempo, os pais dela morreram. Ela cuidou da parte que herdou e depois o meu avô comprou o restante da propriedade dos outros irmãos dela”, conta Fernanda, que hoje cuida da propriedade ao lado da mãe, Maria das Graças de Sá Chagas.
Fernanda, que é contadora por profissão, assumiu os negócios familiares há cerca de três anos. A história da família foi completamente renovada por uma reunião com técnicos da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural de Minas Gerais (Emater-MG), à qual a produtora foi convidada a participar por uma prima.
Nesse encontro, Fernanda se viu fascinada com uma palestra do presidente da Associação dos Produtores de Cafés Especiais das Terras Altas do Caratinga, Mauro Grossi. “Eu que não sabia nada sobre cafés especiais e estava assumindo a propriedade da minha mãe, fiquei simplesmente encantada com o amor que ele mostrava a cada etapa de produção”, relata.
Assistência técnica
Após essa reunião, Fernanda buscou o auxílio do extensionista da Emater-MG na região, Geraldo Regis, com quem iniciou uma jornada de aprendizado e implementação de práticas sustentáveis e de qualidade na fazenda. Dois anos de preparo foram necessários para obter a certificação da propriedade, concedida pelo Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA) por meio do Programa Certifica Minas Café, o que não só trouxe reconhecimento, mas uma nova visão de mercado.
“Foi quando eu tive consciência de todo o processo, precisei ter toda a rastreabilidade tanto dos serviços, quanto dos grãos. Então, a certificação veio também como ferramenta de organização de gestão. O primeiro avanço foi compreender o que era uma fruta café. O segundo, entender o valor que tem a minha fruta e me posicionar perante o mercado. E o terceiro, que para mim é de suma importância, é a valorização do meio ambiente, aprender a conviver equilibradamente para a produção de bons frutos”, explica Fernanda.
A busca por conhecimento levou a cafeicultora a participar de cursos, feiras e congressos, onde fez conexões importantes que ajudaram a divulgar e comercializar seu produto. A marca Café Maricota ganhou relevância, foi exportada para a Europa e negociada com outras cooperativas que impulsionaram a produção.
“O certificado foi uma coroação. A mudança começou a partir do momento em que eu comecei a me preparar para a certificação, que veio para me organizar, nortear, dar sentido ao trabalho”, avalia a cafeicultora.
Terras Altas do Caratinga
A região das Matas de Minas, onde está inserida a fazenda, tem se destacado pela produção de cafés especiais, com características únicas. O café da região, conhecido como Terras Altas do Caratinga, tem se distinguido pela doçura e acidez equilibrada, conquistando paladares exigentes ao redor do mundo.
Há um trabalho em Caratinga para a obtenção da denominação de origem do café produzido por lá. “A gente começou com o Certifica Minas na região em 2008, nós da Emater, o IMA e a Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa)”, relembra o extensionista Geraldo Regis, responsável pelo Certifica Minas Café no município.
O empenho pela certificação na região trouxe à tona a necessidade de um nome que valorizasse e diferenciasse os cafés da localidade. A ideia de Terras Altas do Caratinga nasceu da geografia local, com a produção ocorrendo em altitudes que variam de 550 a 1.300 metros. Além de Caratinga, outros de dez municípios cafeicultores vizinhos fazem parte da associação de produtores regionais, somando mais de 40 mil hectares de lavouras.
Atualmente, a região produz cafés com aroma e sabor chocolate, nuts, caramelo, frutas, floral, rapadura, mel, melaço, entre outros.
Pioneirismo
O Certifica Minas Café foi o primeiro selo de certificação de propriedades cafeeiras no Brasil emitido por uma instituição governamental, em 2006, quando ainda se chamava Agriminas Café. Coordenado pela Seapa e executado pela Emater-MG e pelo IMA, tem o objetivo de assegurar a produção dentro de critérios internacionais de sustentabilidade socioeconômica e ambiental. Atualmente, cerca de 940 propriedades são certificadas por meio do programa.
“Ao aderirem ao Programa Certifica Minas Café, os produtores aprimoram a gestão da propriedade, aumentando a eficiência na produção. Os cafés certificados pelo IMA garantem qualidade e sustentabilidade, atendendo às exigências dos mercados”, resume o gerente de Certificação do IMA, Rogério Fernandes.
Como parte da política pública, a Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig) promove capacitações sobre adequação das lavouras cafeeiras e adaptou campos experimentais às normas do programa, para que sirvam de modelo aos produtores rurais.
“Com o Certifica Minas, o produtor rural desfruta de diversas vantagens, desde o aumento do valor agregado até a assistência para toda a sua produção, de maneira ambientalmente correta. Isso cria oportunidades, especialmente no mercado externo”, explica o subsecretário de Política e Economia Agropecuária da Seapa, Caio César Coimbra.
Cafeicultura em 2024
A safra mineira de café deve alcançar 29,2 milhões de sacas neste ano, com um aumento de 0,6% em relação a 2023. A busca por plantas mais resistentes às pragas e doenças e a mecanização da atividade contribuíram para elevar a área produtiva em 3,2%. A expansão se justifica especialmente pela renovação dos cafezais nos últimos anos.
Caso as projeções desse primeiro levantamento da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) para a safra de café se concretizem, Minas Gerais manterá a posição de maior produtor de café no Brasil, respondendo por cerca de 50% da safra nacional.
Em 2023, a safra no estado registrou um crescimento expressivo de 24% na produtividade, chegando a 26,8 sacas por hectare. Já a área em produção cresceu 6,3%, registrando 1,1 milhão de hectares. Isso contribuiu para que o volume produzido alcançasse 29 milhões de sacas beneficiadas, representando um acréscimo de 32% comparado à safra passada.