*Marcos Machado
Não se faz “justiça social” com injustiça racial. Isto, nossos legisladores e teóricos do absurdo óbvio já deveriam saber. Talvez até saibam, mas preferem embarcar na onda do infernal “politicamente correto”, que eu chamaria de politicagem explícita. Ser branco no Brasil se tornou praticamente uma maldição. Quase um crime.
Tem hora que penso que sou de outro planeta, e que fui deixado aqui por esquecimento, ou, como no caso do Clark Kent, como sobrevivente, infelizmente, sem os superpoderes. Acontecem coisas aqui que eu realmente não compreendo como puderam tanto.
Vamos ao que é científico: ser branco é uma deficiência. Isso porque quem tem a pele branca produz pouca melanina, pigmento natural que dá cor à pele, cabelo e olhos. Ela é produzida por células chamadas melanócitos, e a quantidade de melanina que cada pessoa possui determina sua cor de pele. Viu? É simples: quem é branco, segundo essa lógica, é deficiente. Ou seja, uma PcD.
A quantidade de melanina não afeta a capacidade cognitiva ou intelectual do indivíduo, segundo a ciência. Ela define que a inteligência e a capacidade cognitiva são determinadas por diversos fatores genéticos e ambientais, além da experiências de vida. Ou seja, a pessoa não será melhor ou pior por causa da pele. Isto tudo, claro, segundo a ciência, não de acordo com a política.
Claro que os absurdos legislativos não se aplicam a quem os cria, jamais. Eles são direcionados à população que nada pode fazer contra, sequer é realmente ouvida. Como foi o caso da política que pôs fim aos manicômios: ao invés de consertar o sistema, preferiram extingui-lo. As famílias e os profissionais que se virem. “Que se fodam”, como se diz no português claro. Isto, no entanto, será tema de outro artigo.
Recentemente, foi aprovada no Senado a segregacionista cota de 30% em concursos públicos para pessoas com excelente produção de melanina (que, de quebra, protege contra os raios ultravioletas). Segregacionista, pois impõe tutela estatal sobre uma parcela da sociedade considerada, pelo legislador, não por mim, como incapaz de ascender profissionalmente por seus próprios méritos.
Como isso funciona? Suponha que você faça um concurso público e fique em oitavo lugar na classificação geral, para dez vagas disponíveis. Parabéns, mas você não vai assumir, porque um candidato que ficou em 101º lugar, e foi abençoado com uma melanina exuberante, entrará no seu lugar. Não porque tenha estudado mais. Não porque seja mais bem preparado, mas porque sua pele é menos suscetível a queimaduras solares. Isso é meritocracia às avessas. É justiça com critérios biológicos.
PS: Esse critério biológico me faz lembrar de um regime que assolou o planeta no fim da primeira metade do século passado…
O povo brasileiro é miscigenado ao extremo, uma salada de etnias. Pode até haver algum tipo de racismo velado, em circunstâncias bem específicas, mas tomar isso como regra é generalização indevida, movida por ideologia, não por análise.
O mais grave: é impossível haver qualquer acepção por cor ou etnia em um concurso público que, por definição, deveria ignorar exatamente isso e focar exclusivamente na capacidade dos candidatos. O dinheiro do contribuinte não deve custear carências coitadistas, vitimistas, nem de aproveitadores da famigerada Lei de Gerson. Dívida social? Onde e quando foi que assinei essa promissória?
A distorção vai além do campo ético: ela é programática. É a própria tentativa de redesenhar a sociedade à força, de cima para baixo, como denunciam os críticos da engenharia social.
a lei, que deveria ser cega, passa a enxergar a cor da pele como critério de justiça
Frédéric Bastiat foi um dos primeiros a enxergar o desvio da lei: “A lei é pervertida! E com ela a força. Não para proteger direitos, mas para violá-los. Ela se torna um instrumento de toda espécie de ganância, em vez de uma barreira contra a injustiça.”
É exatamente isso que se vê quando a lei, que deveria ser cega, passa a enxergar a cor da pele como critério de justiça, e a fazer dela um trampolim para políticas compensatórias arbitrárias. Quando a balança da justiça é pendida por decreto, não se busca equidade, mas controle.
Ah! Já ia me esquecendo do artigo 5º da Constituição Brasileira, que diz, textualmente, que todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza. Vou repetir: sem distinção de qualquer natureza. Mas afinal, o que é uma Constituição senão um amontoado de letras impressas no papel?
No Brasil, ainda vale o que está escrito, mas só no jogo do bicho.
Aos concurseiros apartados da graça da melanina resta, além de estudar ainda mais, a alternativa dos estúdios de bronzeamento artificial e dos cabeleireiros que façam o antigo permanente. Vá que cole!
*Jornalista profissional diplomado, editor do portal Do Plenário, escritor, psicanalista, cientista político ocasional autoproclamado, analista sensorial, enófilo, adesguiano, consultor de conjunturas e cidadão brasileiro protegido (ou não) pela Constituição Brasileira


