Dois por cento dos empregados na construção civil em Brasília-DF trabalham em obras do governo. Das 62 mil pessoas ocupadas no setor de construção, 1.293 são contratadas de empresas que venceram licitações e executam obras financiadas pelo governo. Os dados de trabalhadores do setor de construção estão na Pesquisa do Emprego e Desemprego (PED), divulgada nesta terça-feira (28). O estudo é feito pelo Secretaria de Trabalho (Setrab), em parceria com a Companhia de Planejamento (Codeplan) e com o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese).
O levantamento sobre a empregabilidade nas obras públicas foi feito pela Secretaria de Infraestrutura e Obras e pelo Departamento de Estradas de Rodagem (DER) e inclui 13 intervenções que estão em andamento em diferentes bairros de Brasília (regiões administrativas), como as realizadas pelo Gabinete de Gestão Integrada em Vicente Pires.
Divididas em 11 lotes e realizadas por nove empresas diferentes, as ações, que começaram a ser feitas emergencialmente após as fortes chuvas que castigaram a região, empregam 412 trabalhadores. Também estão na lista os túneis, pontes e viadutos do Trevo de Triagem Norte e a Ligação Torto-Colorado que têm, juntas, 534 funcionários. O levantamento também inclui as obras feitas no Sol Nascente, a revitalização das quadras 511/512 Sul, a reparação do viaduto Galeria dos Estados e a construção de três viadutos na BR 020.
São obras que trazem mais qualidade de vida para os brasilenses, movimentam a economia e mudam a vida de trabalhadores em um cenário de crise econômica nacional. Felipe Pereira da Silva tem 22 anos e passou dez anos fazendo trabalhos esporádicos. Ele trabalha desde os 12 anos, aprendeu o ofício de pedreiro com o padrasto, mas nunca teve carteira assinada. Desde abril ele está contratado pela Via Engenharia e trabalha como ajudante geral nas obras de revitalização da Avenida W3 Sul. “Nunca fiquei parado, sem trabalhar. Se não aparecia nada de construção, eu fazia jardinagem, pintura. Já trabalhei em um lava-jato, mas sempre como autônomo. Nunca tinha sido fichado”, conta. “Meu aluguel está pago e não tenho mais conta atrasada.”
O secretário de Obras, Izídio Santos, afirma que, cada emprego direto gerado pelas obras é responsável por quatro a cinco indiretos. “Com a retomada das obras, a geração de empregos se faz presente, e não só nas obras, mas na cadeia produtiva de modo geral, que é toda beneficiada. Se reflete nas lojas de material de construção, na própria rotina desses trabalhadores que voltaram a ir aos supermercados, por exemplo. Isso vai gerando toda uma cadeia produtiva de muito valor‘’, ressalta.
Emprego e desemprego
De acordo com o gerente de Pesquisas Socioeconômicas da Codeplan, Juçanio de Souza, a construção civil em Brasília, que é a grande empregadora de trabalhadores de baixa renda, com pouca escolaridade e qualificação profissional, começa a dar sinais de recuperação depois de três meses seguidos de queda: eram 73 mil ocupados no setor em janeiro, 69 mil em fevereiro e 60 mil em março. “Esperamos que esse número comece a crescer a partir de abril, com o fim do período das chuvas e uma retomada do setor imobiliário e das obras públicas. O setor de construção civil sofreu muito os impactos da crise”, afirma.
Apesar do pequeno crescimento em abril, Juçanio ressalta que qualquer mudança nos dados de emprego este ano será feita de modo gradativo. “A retomada das obras públicas pode trazer mudanças na PED, sim, mas não temos previsão de recuperação expressiva até o final do ano. O desemprego no DF está atrelado ao cenário nacional”, diz.
Brasília ainda tem 337 mil desempregados. Decreto assinado pelo governador e publicado no Diário Oficial do DF da última terça-feira criou o Comitê de Apoio à Geração de Emprego e Renda, com o objetivo de debater, acompanhar ações e apresentar proposições relacionadas à criação e implantação de políticas públicas voltadas à geração de emprego e renda.
De acordo com o secretário de Trabalho, João Pedro Ferraz, o objetivo é reunir empregadores, trabalhadores e governo para fomentar o diálogo permanente entre eles e potencializar a oferta de novos postos de trabalho e de geração de renda. “Vamos convidar o setor produtivo, representantes dos empregados e de empregadores, para participar do comitê para pensarmos juntos em programas que gerem emprego e renda”, afirma. “O desemprego é grande no país inteiro, mas temos que resolver aqui”, ressalta.
(Com Agência Brasília/Foto: Paulo H. Carvalho)