*Marcos Machado
Uma vírgula mal colocada, um “concerteza” junto, ou um “há dez anos atrás” escapando do teclado são erros que parecem pequenos, mas que têm custado caro aos candidatos a emprego no Brasil.
Segundo pesquisa do site de empregos Catho, 34% dos recrutadores eliminam candidatos já na triagem de currículos por erros de português. O dado é confirmado por levantamento semelhante do Conselho Regional de Administração – CRA-RJ, que aponta também o idioma como a principal causa de rejeição antes da entrevista.
Mais do que uma questão estética, o domínio da norma-padrão é interpretado como sinal de preparo, cuidado e clareza, qualidades cada vez mais valorizadas no mercado de trabalho.
Uma especialista em Recursos Humanos explica que ❝se o candidato não consegue revisar o próprio currículo, como esperar que ele se comunique bem em relatórios, e-mails e no trato com clientes?”
Principais causas de eliminação na triagem curricular: Fonte: Catho e CRA-RJ
- 34% – Erros de português
- 24,6% – Falta de experiência
- 10,1% – Objetivo profissional ausente ou genérico
- 9,4% – Localização distante da empresa
- Demais – Currículo confuso, excesso de páginas, informações irrelevantes
Currículo é um reflexo
Recrutadores destacam que o currículo é o primeiro contato entre o profissional e a empresa, funcionando como um “cartão de visita”. Um texto mal redigido passa a imagem de desleixo, e em um cenário de alta competitividade, isso basta para eliminar o candidato.
De cada 50 currículos enviados, no máximo dez vão para entrevista. A maioria fica pelo caminho por falhas gramaticais ou de formatação, conforme explica o gerente de recrutamento de uma multinacional em São Paulo.
Além dos erros, exageros e mentiras também são fatais: pesquisa da consultoria Robert Half mostra que sete em cada dez recrutadores já eliminaram candidatos por informações falsas, principalmente em relação a idiomas, habilidades técnicas e formação acadêmica.
O alto índice de reprovação por falhas gramaticais também expõe uma chaga maior: a desigualdade educacional. Muitos candidatos não dominam a norma culta por falhas de base, o que restringe seu acesso ao mercado de trabalho mais exigente. A consequência é o reforço de barreiras sociais históricas. O idioma, que deveria ser um instrumento de inclusão, no Brasil se tornou um fator excludente.
Escreva bem, ou nem será lido
No mercado atual, não saber escrever corretamente é um dos erros mais caros que um candidato pode cometer. O português, frequentemente negligenciado fora da escola, é o primeiro teste no mundo do trabalho, e ele não perdoa.
Para quem busca oportunidades, a dica é clara: antes de atualizar o currículo com cursos e experiências, revise cada linha. Um simples erro pode custar não só a vaga, mas também a chance de ser, ao menos, ouvido.
*Jornalista profissional diplomado, editor do portal Do Plenário, escritor, psicanalista, cientista político ocasional autoproclamado, analista sensorial, enófilo, adesguiano, consultor de conjunturas e cidadão brasileiro protegido (ou não) pela Constituição Brasileira, observador crítico da linguagem e da liberdade