A sessão pós-Copom, cuja decisão de política monetária foi acompanhada de um comunicado bastante duro do Banco Central, marcou a perda de um importante patamar psicológico para o Ibovespa: os 100 mil pontos. Além disso, contou com outros marcos significativos, como a falta de diretriz do governo para a política econômica e a reforma fiscal. Nessa quinta-feira (23), o índice fechou nos 97.926 pontos, com queda de 2,29%, maior baixa desde o primeiro pregão de 2023.
Além disso, o Ibovespa fechou abaixo dos seis dígitos pela primeira vez desde 26 de julho do ano passado, acumulando agora uma baixa de quase 10% no ano. Na mínima do dia, o benchmark chegou nos 96.996 pontos.
Na véspera, o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC manteve a Selic em 13,75% ao ano, reforçando que “irá perseverar até que se consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas, que mostrou deterioração adicional”, mostrando assim que há pouco espaço para corte de juros no curto prazo.
O BC não fez qualquer menção de reduzir a taxa e, pelo contrário, sinalizou mais adversidades que podem, inclusive, fazer com que a Selic possa voltar a subir. Com isso, o comunicado do BC reforçou a visão de grandes bancos de que reduções na Selic ficarão para o segundo semestre do ano, possivelmente só no final desse período.
Os estrategistas também ressaltam que o debate entre governo e Banco Central alimentou ainda mais a deterioração da perspectiva política e colocou pressão adicional nas expectativas de inflação.
Além disso, após um recorde de entradas de capital estrangeiro no Brasil em 2022, com mais de R$ 100 bilhões entrando na Bolsa, no final do ano passado, após as eleições, os ativos brasileiros começaram a ter desempenho inferior em relação a seus pares globais devido a preocupações com o ruído político.
Como resultado, em fevereiro, começou a haver saídas de investidores estrangeiros. “Após fortes entradas de capital, fevereiro registrou o primeiro fluxo negativo desde maio de 2022 – com saída de R$ 1,7 bilhão – e março se encaminha para o mesmo movimento. Este é um indicador-chave a seguir, já que os investidores estrangeiros têm sido o comprador final de ativos brasileiros, enquanto os investidores locais migraram para renda fixa”, avaliam.
A XP Investimentos destaca que o Lucro por Ação (LPA) para os próximos 12 meses projetado pelo mercado para o Ibovespa já caiu mais de 10% desde o pico recente. “Devido a essa combinação (lucros menores e taxas de juros mais altas), não vemos mais o Ibovespa tão atrativo quanto estava alguns meses atrás. Ou seja, a Bolsa brasileira ficou menos atrativa em relação às taxas de juros atuais”, ressaltam os especialistas.
“Os 100 mil pontos é uma barreira mais ‘psicológica’ do que factual, mas romper esse ponto é uma sinalização muito ruim, principalmente para os investidores de varejo que costumam olhar esses eventos como um sinal adicional de alerta”, explica Juan Espinhel, especialista em investimentos da Ivest Consultoria.
Segundo ele, ainda que a Bolsa possa ser considerada barata, do ponto de vista do múltiplo Preço/Lucro, a desaceleração da economia impacta negativamente as projeções financeiras das empresas listadas.
“As companhias têm dificuldade de financiar novos projetos de expansão, fazendo com que as projeções de lucros caiam. Então podemos ter um ajuste desses múltiplos pela queda dos lucros e não necessariamente pelo aumento do preço”, diz Espinhel.
(Com reproduções da InfoMoney)