Rodrigo Augusto Prando
Nos dias que correm, o Presidente Bolsonaro só confirma seu estilo de governo: ação política de confrontação, governar elegendo inimigos, internos ou externos, próximos ou distantes, reais ou imaginários. Os inimigos foram e são: a velha política, Rodrigo Maia, o STF, as Ciências Sociais, os jornalistas, os estudantes e professores e, mais atualmente, por incrível que pareça, o meio ambiente e até Sérgio Moro, seu ministro da Justiça.
Se, geralmente, para o cidadão comum aquilo que se fala ou nossas ações trazem consequências, imagine-se para o político que ocupa o cargo mais proeminente da República: a presidência do país. No limite, as falas – discursos, lives nas redes sociais e suas entrevistas – de Bolsonaro tem corroborado uma proposta de manter, constantemente, as relações com os atores políticos, com a sociedade, com as instituições e até nas relações internacionais em estado de tensão, com riscos de esgarçamento do tecido e dos valores democráticos e republicanos. No que tange ao meio ambiente, os dados são de um aumento no desmatamento e das queimadas na região amazônica. Fatos oriundos de estudos e divulgado pelo INPE tiveram, como consequência, não a devida atenção e equacionamento do problema e sim a demissão do presidente do referido órgão, acusado de divulgar dados inverídicos ou de estar a serviço de alguma ONG. Aliás, ainda segundo o presidente, as queimadas poderiam, até, terem sido obras das organizações não governamentais que estariam em guerra contra o governo. Até o momento, não bastasse o desgaste interno, no plano internacional, Alemanha, Noruega, Canadá se posicionaram de forma crítica ao governo brasileiro. A Finlândia, por exemplo, ameaça em propor o banimento da compra de carne brasileira na União Europeia. Bolsonaro e seu núcleo militar reagiram, em parte, aguçando o espírito patriótico e de nossa soberania em relação à Amazônia. Bolsonaro, ainda, não gostou da reação francesa na qual Macron divulga foto descontextualizada. Pois é. Quem com fake news fere com fake news tem sido ferido.
Já não bastasse o volume de problema por conta do meio ambiente, Bolsonaro volta à baila para diminuir, desautorizar seu ministro Sergio Moro. Moro iniciou o governo com, segundo afirmou-se, carta branca para tomar suas decisões. Ao que parece nestes oito meses, Moro passou da condição de “super” para a de “micro” ministro. O pacote anticrime de Moro não avançou, até porque há a reforma da previdência, entendida como estrategicamente mais importante, contudo, sempre que possível Bolsonaro vem a público para deixar claro que quem, efetivamente, manda é ele e não Moro. Pegou muito, muitíssimo mal, as intenções de intervir na Polícia Federal e em outros órgãos públicos por parte do presidente. Há quem questione se, no caso de Moro, há resiliência ou subserviência por parte do ministro que, politicamente, sofre evidente humilhação, como, por exemplo sofreram Bebbiano e Santos Cruz, ambos defenestrados do governo. É certo que as mensagens divulgadas pelo The Intercept enfraqueceram Moro no revolto mar da política, mas, ao invés de lhe jogar uma corda ou boia, Bolsonaro lhe lança bigornas.
Ao que tudo indica esse é e será o estilo presidencial: governar por meio do confronto, mantendo a chama bolsonarista eleitoral acesa, buscando, também, estabilizar esse apoio de cerca de 30% que apresenta nas últimas pesquisas. Quer, assim, firmar-se quase que como um Lula da direita, já que o petista também manteve um eleitorado próximo deste percentual. Claro está que deseja a reeleição em 2022 e que fará de tudo para manter o clima eleitoral beligerante ativo e de eliminar aqueles que, como Moro, poderão lhe ameaçar no futuro próximo. Veremos se essa estratégia no plano interno e nas relações internacionais será de êxito ou equivocada.
Rodrigo Augusto Prando é Cientista Político e professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie. É Bacharel e Licenciado em Ciências Sociais, Mestre e Doutor em Sociologia, pela Unesp/FCLAr.
Assessoria de Imprensa Universidade Presbiteriana Mackenzie