Ray Cunha
Haverá maior símbolo de liberdade
Do que batom vermelho escrito na Justiça?
É como desvendar-lhe os olhos do espírito
E libertar o mundo de toda maldade
Condenada a não veres teus filhos crescerem
Agora, és heroína, Débora, e grilhão
Algum te deterá no interminável espaço
Nada deterá a luz que disseminas no éter
Batom é como pétalas de rosas rubras
Que nascem nos jardins até o fim do Universo
Que Deus disseminou como perfume azul
Batom, mesmo que escrito no duro granito
Como pode ameaçar o Estado de direito
Se batom é preciso, viver não é preciso?
BRASÍLIA, 24 DE MARÇO DE 2025 – Escrevi, hoje, o poema acima em homenagem à Débora Rodrigues dos Santos. A Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) a está julgando, acusada de golpe de Estado. O ministro Alexandre de Moraes já bateu seu temido martelo: deu 14 anos de cadeia para Débora e 30 milhões de reais em multa. O ministro Flávio Dino também baixou seu porrete.
No dia 8 de janeiro de 2023, Débora escreveu na estátua A Justiça, de Alfredo Ceschiatti, defronte ao palácio do STF, “perdeu, mané”, repetindo o ministro Roberto Barroso, presidente da Corte. Débora está presa desde março de 2023, é casada, mãe de duas crianças e morava no interior de São Paulo.
Segundo o ex-presidente Jair Messias Bolsonaro já afirmou em inúmeras entrevistas publicadas ad nausean, o golpe de Estado de 8 de janeiro de 2023 é uma narrativa tão esdrúxula que nem os mais delirantes roteiristas de Hollywood conseguiriam criar. Bolsonaro é o maior líder da Direita Brasileira e acusado de comandar o golpe. Já teve seu passaporte apreendido e é pule de dez que será preso. Preso, segundo seu filho, o deputado Eduardo Bolsonaro (PL/SP), será jogado às traças e morrerá doente.
Quanto ao batom, a arma de Débora, é um cosmético que realça os lábios de uma mulher. Batom é do francês “bâton”, “bastão” em português. Trata-se do cosmético mais utilizado em todo o mundo. As mulheres sempre o utilizaram ao longo da História. Haverá algo mais bonito do que os lábios de uma mulher? Sim, os lábios pintados de vermelho, como rosa colombiana.
Lindo porque uma mulher com os lábios vermelhos me transmite a sensação da luz triunfando, de liberdade.
Batom é Preciso, Viver não é Preciso é um soneto com versos alexandrinos, com cesura na sesta sílaba.