Ray Cunha
Os ditadores são as criaturas mais diabólicas que há na Humanidade. São os piores escravocratas e os carrascos mais totalitários, e os maiores mentirosos do mundo. Vestem-se em pele de cordeiro e assumem ar de santo, mas são capazes das atrocidades mais inimagináveis, como estuprar crianças e servir a um preso político ensopado do filho do miserável. Na Ibero-América esse tipo de hiena vive pipocando.
Dois dos maiores escritores do mundo, naturais da América do Sul, ambos Nobel: Gabriel García Márquez e Mario Vargas Llosa, debruçaram-se sobre essas criaturas demoníaca, os ditadores ibero-americanos, mas de modo diverso.
Márquez era um estudioso da solidão dos ditadores, que, no fim das contas, desejam ser Deus – infinitos e onipotentes. Mas como o ditador ocupa o poder absoluto, vive ansioso 24 horas por dia, todos os dias da sua vida de ditador, pela simples razão de que não pode dividir o poder com ninguém, nem com uma mulher, muito menos com dez urubus. Márquez escreveu uma obra-prima sobre o assunto: O General em seu Labirinto.
Llosa legou uma reportagem, que foi, provavelmente, o que levou a academia do Nobel a lhe outorgar o prêmio: A Festa do Bode. É de arrepiar! Recende a carniça! Este artigo é sobre isso.
A festa do Bode (La Fiesta del Chivo, Alfaguara/Objetiva, Rio de Janeiro, 2011, 450 páginas) é sobre a ditadura de Rafael Leónidas Trujillo Molina, o Bode, de 1930 a 1961, na República Dominicana, país que divide com o Haiti uma das ilhas do Mar do Caribe, Hispaniola, primeiro território americano a ser descoberto por Cristóvão Colombo.
Se quiserem chamar A Festa do Bode de romance, tudo bem. “Se o leitor preferir, considere este volume como um trabalho de ficção. Seja como for, ficção ou não, há sempre a possibilidade de que lance alguma luz sobre aquilo que foi escrito como matéria de fato” – escreveu Ernest Hemingway no prólogo de Paris é uma Festa. O fato é que A Festa do Bode disseca a mecânica da mente de um ditador, qualquer um deles. Basicamente, perseguem o poder absoluto, poder que, paradoxalmente, será sempre seu inferno pessoal.
Ditadores, e os que gostariam de sê-lo, têm em comum alguns traços: são, em potencial, populistas, nepotistas, patrimonialistas, mentirosos, profundamente covardes, ladrões, perversos, bestas crudelíssimas, torturadores, estupradores, assassinos, criaturas diabólicas. Como se diz em psicologia: psicopatas. Chegam ao poder porque são ousados, e maus, e porque se cercam de preguiçosos, ávidos por carniça, a quem alimentam, para se cercarem de zumbis dispostos a empalar a própria mãe por dinheiro.
Llosa descreve como o Bode estuprou uma menina, filha de um assessor seu.
Creio que foi em 2006 que visitei meu amigo Walmir Botelho, em Belém do Pará. Ele era um dos leitores mais sem limites que conheço. Recomendou-me que lesse A Festa do Bode. Já em Brasília, procurei o livro de Llosa, mas estava esgotado. Llosa ganhou o Nobel em 2010 e logo depois as livrarias exibiam montes de livros dele. Comprei A Festa do Bode no dia 24 de dezembro de 2011 e terminei-o de ler dia 11 de janeiro de 2012. Lia-o à noite, em casa, ou no ônibus a caminho do trabalho. Desde o início, não dormi mais direito, passando, às vezes, noite em claro, ou entrecortada de pesadelos. Às vezes, lendo-o, eu era possuído de indignação, e também sentia meus olhos ficaram úmidos.
A festa do Bode será sempre um alerta contra as ditaduras, como a de Hugo Chávez Nicolás Maduro, que roubou tudo dos venezuelanos. Por que essas serpentes não caem? Porque, como a metástase, contaminam quase todo o país, sobrevivendo do cadáver. Por isso é que não basta apenas eliminá-los – é necessário recomeçar tudo. O povo cubano, por exemplo, terá que enterrar, além dos ossos de Fidel Castro e quadrilha, também o “comunismo” cubano, que hoje é apenas nostalgia das viúvas. Ditaduras, sejam de esquerda (?) ou de direita (?), são uma coisa só: degradação humana.
O comunismo é apresentado como regime político, mas é uma máfia. O ditador, seus pretorianos, forças armadas e polícias (que viram forças políticas, de repressão) desarmam a população, amordaçam a imprensa, destroem a família e as religiões, escravizam o povo e pilham tudo. Exatamente como faz o regime castrista em Cuba e Maduro na Venezuela.
Meu romance O CLUBE DOS ONIPOTENTES disseca o comunismo e traça o perfil de algumas das figuras mais repelentes dessa máfia infernal. Perto deles, deve-se sentir angústia e bafo de carniça e álcool. Ainda neste ano será publicada a sequência de O CLUBE DOS ONIPOTENTES, seguido de mais um volume, fechando uma trilogia sobre o comunismo e algumas das suas hienas mais ferozes.
O CLUBE DOS ONIPOTENTES pode ser adquirido no Clube de Autores ou na amazon.com.br