Com um catálogo de mais de 600 obras, José Antônio Rezende de Almeida Prado (1943-2010) é considerado um dos maiores compositores brasileiros. A fim de homenageá-lo, a violinista Luciana Caixeta e a pianista Fabíola Pinheiro, duas estudiosas do trabalho de Almeida Prado, apresentam, na edição desta semana do Sextas Musicais, um recital especialmente dedicado a este compositor.
O espetáculo, com entrada gratuita, será nesta sexta-feira (24), às 20h, no CTJ Hall, na Casa Thomas Jefferson da SEP SUL 706/906. E a transmissão ao vivo pelo YouTube do centro binacional, que tem o apoio da Embaixada dos EUA na realização de seus eventos culturais, será mantida em todos espetáculos. Dessa forma, esse patrimônio de belas apresentações musicais permanecerá disponível online.
Confira o programa deste recital:
Almeida Prado (1943-2010) Balada “B’nai B’rith” (1993)
Sonata para violino e piano nº 2 (1984)
Noturno nº 13 (1991)
Sonata para violino e piano nº 3 (1991)
Sobre as musicistas
Luciana Caixeta, violinista, é doutora em música pela Universidade de São Paulo (USP) e mestre em performance musical pela Miami University. Fez parte do Miami University Graduate String Quartet e do Presser Quartet. Foi integrante da Orquestra Sinfônica de Santo André, Orquestra Jovem do Estado de São Paulo, Orquestra Experimental de Repertório e Camerata Fukuda.
Atuou como chefe de naipe dos segundos violinos da Miami University Symphony Orchestra, Middletown Symphony Orchestra e da Orquestra Filarmônica de São Carlos.
Foi aluna da Escola de Música de Brasília e da Universidade de Brasília, além de ter estudado com as professoras Márcia Fukuda e Elisa Fukuda. Já foi professora do Young Musicians’ Program da Miami University, do Oxford Violin Studio, da West Chester Academy of Music e da Universidade de São Paulo em Ribeirão Preto.
É professora capacitada pela Suzuki Association of the Americas e, atualmente, é professora de violino do Centro Suzuki de Brasília, da Escola de Música de Brasília e do Suzuki Violin Studio, além de se apresentar regularmente como camerista em colaboração com diversos artistas e grupos da cidade, como o Oxford Violin Duo e a Camerata do Cerrado.
Fabíola Pinheiro, pianista, é natural de Brasília. Doutora em música pela Universidade Federal da Bahia. Estudou também na Universidade Federal da Paraíba, na Northern Illinois University, na Duquesne University e na Carnegie Mellon University.
Já participou do Bowdoin Music Festival e do Aspen Music Festival. Apresentou-se como solista à frente de várias orquestras e como recitalista em várias salas de concerto. Como camerista e musicista de orquestra, colaborou com vários instrumentistas e grupos, como a Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional Cláudio Santoro.
Paralelamente a suas atividades artísticas, publicou artigos acadêmicos em revistas especializadas, além de se dedicar ao ensino do piano.
Sobre o programa
José Antônio Rezende de Almeida Prado (1943-2010), considerado um dos maiores compositores brasileiros, possui um catálogo de mais de 600 obras. Estudou harmonia e contraponto com Osvaldo Lacerda e composição com Camargo Guarnieri e Gilberto Mendes. Entre 1969 a 1973, foi aluno de Nadia Boulanger e Olivier Messiaen.
Nesses anos de intenso trabalho, de absorção e aglutinação de ideias por meio da sua exposição simultânea a universos tão distintos – o contato com Boulanger permitiu-lhe desenvolver seu métier quanto ao domínio da forma, da harmonia e do contraponto, enquanto Messiaen permitia-lhe explorar questões da autonomia do ritmo e do acorde-cor -, Almeida Prado desenvolveu uma linguagem musical própria, bastante peculiar, que culminou na monumental Cartas Celestes para piano.
Em 1974, Almeida Prado assumiu a posição de professor de composição da Unicamp, o que proporcionou-lhe condições favoráveis e estímulo para compor. Excelente pianista, formou duo com o violinista Nathan Schwartzman, com quem explorou o repertório para esta formação camerística e a quem ele dedicou a primeira sonata para violino e piano e, anos mais tarde, a balada B’nai B’rith, por ocasião da inauguração da Sociedade Hebraica de São Paulo.
Ao longo da década de 1980, sua adesão ao pós-modernismo não representa uma ruptura, mas a absorção de diversos materiais e suas superposições. Sua segunda sonata, de 1984, traz indícios da temática afro-brasileira tão presente em outras obras deste período bastante prolífico e apresenta uma releitura da forma sonata tradicional. Escrita em apenas um movimento, reelabora as relações tonais que pontuam as diferentes seções da obra e que lhe dão unidade. Violino e piano parecem dialogar a partir de planos sonoros distintos que se unem num intrincado tecido musical.
Ao se aproximar dos anos 1990, sua preocupação com a inteligibilidade do discurso musical o torna mais direto e conciso, buscando uma “simplicidade sem populismo”. Revisita as formas musicais consagradas, como no Noturno nº 13 (1991), escrito em comemoração ao aniversário de 13 anos da filha, a violinista Maria Constança de Almeida Prado. A obra recebeu o prêmio da APCA de melhor música de câmara. Apresenta uma textura homofônica característica do gênero, com harmonias diluídas pelas suspensões e o tratamento livre das dissonâncias.
Na terceira sonata, de 1991, a sobreposição dos diversos materiais explorados pelo compositor revela um processo de síntese dos processos desenvolvidos ao longo da década anterior. O amadurecimento lhe permite se expressar de maneira orgânica, por meio de um discurso mais fluido. A alternância de seções contrastantes, elaboradas como numa colagem de elementos distintos, confere unidade à obra. Se na Sonata nº 2 o compositor explora as ressonâncias a partir do acúmulo sonoro criado pela repetição de figurações rápidas do piano, na Sonata para violino e piano nº 3 são os blocos sonoros verticais de acordes que criam atmosferas singulares, às quais o violino se une.
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