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O inaceitável gramaticalmente aceitável

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Marcos Machado

A língua portuguesa, como qualquer outra língua, é uma construção viva e dinâmica, sujeita a transformações e adaptações ao longo do tempo. No entanto, esta flexibilidade não deve ser confundida com uma licença para desconsiderar as normas gramaticais que, não raras vezes, têm sido vistas como meras convenções. O que se tem chamado de “aceitável” na comunicação cotidiana, muitas vezes, pode esconder o que é, na verdade, o inaceitável gramaticalmente aceitável.

É fundamental compreendermos que o certo é certo e o errado é errado. Essa dicotomia, embora possa parecer simplista em um mundo que valoriza a diversidade linguística, é essencial para a preservação do idioma e para a clareza na comunicação. A norma padrão da Língua portuguesa não é uma imposição arbitrária, mas um conjunto de regras que permite que nos entendamos de forma eficaz. Ignorar essas regras em nome de uma suposta modernidade ou de uma busca por uma forma de expressão “mais livre” é, na verdade, um sinal de complacência com o gramaticalmente indolente.

O que significa ser gramaticalmente indolente? Trata-se da falta de cuidado e de atenção ao utilizar a Língua, seja na escrita ou na fala. Para aqueles que dominam, ao menos, o básico da gramática, os erros se tornam evidentes e, muitas vezes, incomodam. Um discurso repleto de gírias, concordâncias equivocadas e expressões mal colocadas pode gerar confusão e distorcer o significado das ideias que se pretendem transmitir. Afinal, o que vale mais: a liberdade de se expressar de qualquer maneira ou a clareza e a precisão na comunicação?

A ideia de que errar é normal e que o uso incorreto de uma estrutura gramatical pode ser considerado aceitável leva a um ciclo vicioso de desprezo pelas normas da Língua. O erro se torna a norma e, assim, a comunicação se empobrece e se torna vulnerável a interpretações ambíguas. Para quem não tem um conhecimento básico da Língua, essas incorreções podem passar despercebidas, mas para aqueles que se dedicam a estudar e a entender as regras que a regem, a situação se torna frustrante. Afinal, a linguagem é uma ferramenta que deve ser utilizada com responsabilidade.

Então, sem pedantismo, vamos prestar mais atenção ao que é correto evitando uso de ordinais em substantivos compostos, a troca de advérbios por conjunções, e ter mais atenção aos tempos verbais entre outros detalhes que agridem diariamente o idioma.

Ao se manifestar publicamente, seja por meio de rede social, página na web, portal de notícias, ‘live’ ou qualquer outra forma de comunicação observe o básico, do que se deveria ter aprendido no ensino fundamental.

A esfarrapada desculpa do que é aceitável reflete a ideia disseminada de que roubar um celular para tomar uma cervejinha é “aceitável”. Erros acontecem, naturalmente, por distração, ou mesmo desconhecimento. A perfeição é um objetivo inalcançável, mas sempre perseguido. Todos somos passíveis de um ou outro deslize mas, na essência, devemos primar pelo melhor.

Aos costumes!

*Jornalista profissional diplomado, psicanalista, analista sensorial, adesguiano, consultor de conjunturas e cidadão brasileiro protegido (ou não) pela Constituição Brasileira

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