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Dia do Jornalista: nada a comemorar?

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Marcos Machado

Ontem foi Dia do Jornalista, mas, sinceramente, não encontrei motivos para comemorar.

Sou jornalista profissional, com diploma, experiência ampla e vivida nos bastidores e na linha de frente da notícia. Atuei nas redações exercendo funções de repórter a editor-chefe. No outro lado da informação, ou da versão, como assessor e coordenador de comunicação. O jornalismo pulsa em mim, está no sangue, na mente, na alma.

Confesso: tem sido difícil manter o entusiasmo por uma profissão que, ao longo dos anos, foi sendo desfigurada diante dos meus olhos. O jornalismo vem sendo confundido com outras formas de expressão, como a opinião pessoal, o ativismo digital ou a simples liberdade de manifestação. São legítimas em seus contextos, mas não são jornalismo.

O jornalista de verdade é escravo da informação. É isento, imparcial, movido pela busca obsessiva pela verdade dos fatos. Seu papel não é convencer, mas revelar. Não é enfeitar, é esclarecer. Ele é um investigador de versões e um tradutor da realidade, com ética, rigor e responsabilidade. Ou, ao menos, deveria ser.

Deixaram de ser o “cão de guarda da sociedade” para se tornarem papagaios de gabinetes

Essa definição clássica da profissão se perdeu no ruído das redes, no apelo das manchetes sensacionalistas e no calor das paixões ideológicas. Vemos jornalistas, ou figuras que se apresentam como tal, transformando sentimentos em manchetes, confundindo opinião com apuração, e trocando a objetividade por adjetivos. A prática de relatar os fatos com neutralidade virou exceção, não regra.

O que dizer da submissão a autoridades? Muitos veículos se converteram em meros alto-falantes do poder, repetindo discursos oficiais sem confronto, sem apuração, sem dúvida. Deixaram de ser o “cão de guarda da sociedade” para se tornarem papagaios de gabinetes.

Dói ver a manipulação disfarçada de jornalismo. Dói ver a confiança pública sendo envenenada por informações distorcidas, por agendas camufladas, por interesses escusos. Dói perceber que o cidadão comum, já tão fragilizado por uma avalanche de desinformação, muitas vezes não consegue mais distinguir jornalismo de propaganda.

O jornalista não é porta-voz dos governantes, é, acima de tudo, empregado dos governados. É um serviçal da sociedade, não dos poderosos. Deve ser temido pelos que detêm o poder, não bajulado por eles.

Aos que ainda resistem, aos que exercem a profissão com ética, coragem e humildade, deixo meu abraço. Aos que ainda acreditam que a verdade importa e que a notícia não é lugar de opinião, mas de responsabilidade, deixo meu respeito.

*Jornalista profissional diplomado, editor do portal Do Plenário, escritor, psicanalista, analista sensorial, adesguiano, consultor de conjunturas e cidadão brasileiro protegido (ou não) pela Constituição Brasileira

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