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sexta-feira, novembro 1, 2024

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Minas tem café, leite e vinho

Uma nova marca mineira de vinhos de inverno se prepara para a chegada ao mercado consumidor a partir de 2024. Trata-se da Alma Mineira, de propriedade do engenheiro agrônomo Welles Pascoal. O vinhedo fica no município de Senador José Bento, no Sul de Minas, região tradicional produtora de café, que tem se despontado como um novo polo vitivinícola, por meio da utilização da técnica de dupla poda da videira, propagada pela Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig).

Welles Pascoal / Crédito imagem: Diego Vargas/Seapa

Apaixonado por uvas e vinhos, Pascoal conta que visitou vinícolas do mundo todo durante os 38 anos que trabalhou em uma multinacional norte-americana. Ao se aposentar, começou a pensar em nova ocupação, algo que preenchesse o tempo e também fosse prazeroso. “No primeiro momento, como todo bom mineiro, veio a ideia de um laticínio, queijos. Comecei a pesquisar sobre a atividade e vi que não era o que eu queria. Aí veio a história do vinho, fiquei sabendo da tecnologia da dupla poda que a Epamig tinha desenvolvido para o Sul de Minas Gerais”.

Dono de algumas propriedades na região, Welles Pascoal vislumbrou a possibilidade de investir na nova atividade em Senador José Bento. “Pensei, dá para fazer uma coisa legal aqui. Tenho solos de alta fertilidade, que foram cultivados com café por muitos anos e um clima muito propício. O nome ‘Alma Mineira’ veio do gosto pela sabedoria popular mineira, da simplicidade e ao mesmo tempo da profundidade de espírito e sabedoria de muitos mineiros especiais com os quais tive oportunidade de conviver”.

Inversão do ciclo

A tecnologia de dupla poda da videira consiste na inversão do ciclo produtivo da planta, por meio da realização de duas podas anuais (em janeiro e agosto), que possibilitam a alteração da época de maturação e colheita das uvas para o período de inverno, quando o tempo nas regiões cafeeiras do Sudeste brasileiro é mais seco, com menor incidência de chuvas e elevada amplitude térmica (diferença de temperatura entre o dia e a noite). A prática começou a ser testada pela Epamig e produtores no início da década de 2000 e tem resultado em vinhos de elevada qualidade.

“Os vinhos de inverno produzidos no Sudeste do Brasil têm padrão de qualidade reconhecido em concursos nacionais e internacionais. Fator que chamou a atenção do setor produtivo que vem investindo na formação de novos vinhedos e na construção de vinícolas. Hoje, já encontramos vinhedos em diferentes mesorregiões de Minas, além de áreas produtoras nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Espírito Santo, na região Centro-Oeste do Brasil e na Chapada Diamantina”, destaca a coordenadora do Programa Estadual de Pesquisa em Vitivinicultura da Epamig, Renata Vieira da Mota.

Na avaliação do secretário de Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Thales Fernandes, os resultados mostram que a Epamig vem cumprindo sua missão. “Até pouco tempo não se pensava em produzir uvas e vinhos, em escala comercial, em Minas Gerais. Graças ao trabalho da Epamig, que desenvolve tecnologias adaptadas à realidade do nosso estado, a vitivinicultura já é uma realidade com resultados que fortalecem o agronegócio mineiro, a diversidade da nossa produção agropecuária, além de estimular a excelência e a qualidade dos produtos mineiros, que vêm sendo reconhecidos pelo mundo afora”.

Do experimento ao empreendimento

Welles Pascoal afirma que começou o plantio de videiras para produzir vinhos para o consumo próprio. “A minha ideia era presentear os amigos e confraternizar com a família. Plantei os primeiros mil pés de uva Syrah para conhecer. Mas me apaixonei pela cultura e vi que aqui tinha potencial para mais”.

Na propriedade, situada numa área com altitude entre 800 e 950 metros, são cultivadas uvas Syrah, Sauvignon Blanc e Cabernet Franc. “Este ano vou plantar Marselan, Cabernet Sauvignon, Petit Verdot e Viognier e chegar a uma área plantada entre 13 e 14 hectares de videiras. Próximo daqui, em uma altitude de 1200 metros, posso plantar uvas para espumantes, que será o próximo passo da Vinícola Alma Mineira”, adianta Pascoal, acrescentando que os primeiros vinhos da marca devem ser comercializados a partir do próximo ano.

“Esta será nossa terceira safra, a primeira comercial. Para o próximo ano, teremos dois rótulos de Syrah, sendo um Gran Reserva, Sauvignon Blanc e também um Syrah Rosé. Este ano nosso plano é concluir a implantação da vinícola e para 2024 vamos trabalhar na instalação de um hotel boutique e de um restaurante, criando então a estrutura para o enoturismo. Queremos produzir cerca de 100 mil garrafas por ano e ser reconhecidos pela qualidade e excelência de nossos produtos. Produzir vinhos excepcionais, que encantem os apreciadores mais exigentes”, define.

Confiança e experiência

Welles Pascoal ressalta que investir no cultivo de uvas finas e na construção de uma vinícola tem um custo bastante alto. Por isso, é importante buscar apoio e informações em instituições qualificadas e confiáveis. “Eu conhecia a Epamig desde a universidade, por meio de suas publicações como o ‘Informe Agropecuário’ e pelo protagonismo na cafeicultura, tive amigos que trabalharam lá. Quando passei a me informar sobre a dupla poda, vi que o trabalho era em Caldas, que fica a cerca de 50 quilômetros da minha propriedade e fui até lá. A equipe me deu uma ajuda muito grande em muitas coisas que eu não sabia sobre o negócio, o cultivo da uva, a vinificação”, reconhece.

O produtor acrescenta que se impressionou com a qualidade dos vinhos produzidos pela tecnologia de dupla poda. “A primeira vez que eu experimentei um vinho de inverno brasileiro me surpreendi. E quando experimentei o vinho que eu produzi, pela primeira vez, me emocionei. A Epamig nos inseriu no mapa mundial dos vinhos de qualidade. Eu tenho uma admiração muita grande pela empresa, que é a minha vitrine, a entidade que mais conhece sobre uvas no Sul de Minas e o local onde eu busco referência”.

A diretora-presidente da Epamig, Nilda Soares, destaca que a empresa também oferece apoio aos vitivinicultores que estão se iniciando na atividade. “Além da difusão de tecnologias por meio de mudas, publicações, dias de campo e eventos técnicos, disponibilizamos em Caldas, o serviço de vinificação. O produtor traz as uvas e nossa equipe elabora todo um protocolo de ações até que o vinho esteja pronto para a comercialização. Esse acolhimento, que dura até cinco safras, possibilita que ele estruture sua marca e saia daqui fortalecido para investir em sua própria vinícola, gerar empregos e contribuir para o desenvolvimento de sua região”.

Para a consolidação do enoturismo, o produtor confia no apoio do poder público estadual. “Acho que quando o governo é parceiro e apoia a inovação no estado, o investimento chega junto por parte da iniciativa privada. Eu não estaria colocando o dinheiro que eu coloquei aqui se eu não tivesse confiança neste momento e nestas ações”, finaliza.

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