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quinta-feira, dezembro 12, 2024

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A imprensa faz força para acabar

RENATO RIELLA

Tenho vergonha de me identificar como jornalista. Posso ser visto como burro, sem sensibilidade, quase inútil. Isso diante do que vejo hoje na chamada imprensa.

E nem falo da monstruosidade na cobertura política. Esta situação ideológica ficou crônica – e nem chama mais a atenção. Falo dos fatos extraordinários da vida, que antes davam manchete e agora são tratados como banais.

Vamos ver um caso.

Todos lembram que, há algumas semanas, num trecho afastado das estações, a linha do Metrô de Brasília acabou cortada de madrugada. Foi a prática comum de roubar cabos e fios para vender em ferro-velho.

Só que, na verdade, ocorreu um crime muito mais grave do que o quebra-quebra do 8 de janeiro. Foi milhares de vezes maior. Mas acabou tratado como simples furto. Merdinha!

Vejam bem! A cidade parou criminosamente – e Xandão nem se indignou.

Tirar o Metrô do ar durante todo o dia não prejudica somente 150 mil usuários.

Restaurantes ficaram sem pessoal, enfermeiros faltaram ao trabalho, empregadas domésticas não chegaram, etc. Um caos.

Agora vem a minha decepção. Esse crime merecia prisão perpétua, pelo monstruoso efeito causado.

Porém o culpado é um rapaz jovem, morador de rua, que usou um simples facão para prejudicar toda a cidade. Tosco! Tosco!

E ele foi solto. Deve estar roubando mais cabos de cobre por aí.

E onde anda a imprensa nisso?

Ora, amigos e amigues! Os jornalistazinhos não procuraram este rapaz de rua para entrevista. Nem foi identificado. Deveria estar na Nasa, com seu facão.

Quem é? Como consegue fazer uma operação tão grave sem ser eletrocutado? Quantos fios já roubou.

Este cara seria grande personagem para reportagens – se houvesse imprensa.

O segundo caso é mais incrível. Me dá vontade de chorar – mas minhas lágrimas secaram há mais de 50 anos.

Vejam vocês que, numa casa comum de Itapoan. no DF, um garoto lindinho brincava sozinho com seus carrinhos na sua cama, no próprio quarto.

De repente, alguém da família procurou e viu o menino morto.

Tinha recebido um tiro no lado direito da barriga.

A Polícia Militar chegou rápido e começou a investigação. Claro que questionou se a família tinha arma, etc.

Dias depois, constatou-se que, na verdade, além desse tiro, uma bala atingiu a casa do lado também.

Por incrível que pareça, a nossa ótima Polícia Civil decifrou o mistério. Isso fortaleceu minha decepção com a imprensa, que tratou o caso como um fato comum.

Na verdade, havia uma chance em um trilhão de se matar o garotinho com um tiro de tão longe. Foi a bala perdida mais certeira do mundo.

Vejam vocês que os dois tiros foram disparados aleatoriamente por um PM da ativa, a 1,2 quilômetro de distância. Sem querer matar, claro!

Pela lei da probabilidade, este fato seria impossível de acontecer – mas aconteceu. E foi tratado burocraticamente pelos meus colegas jornalistas.

Repito: tinha uma chance em um trilhão. Seria mais fácil o mesmo meteoro bater no Cristo Redentor e, ricocheteando, vir a acertar a Estátua da Liberdade.

Seria mais fácil Gabriel Jesus fazer dez gols numa mesma partida da Seleção Brasileira.

Seria bem mais viável ver a Globo fazer ampla matéria a favor do Bolsonaro, e por aí vai.

Uma chance em um trilhão. Primeiro, deveria ser apurado, com profundidade técnica, como a nossa Polícia Civil conseguiu esclarecer esse crime.

A apuração merece entrar em todos os manuais internacionais de investigação.

E o disparo precisa ser bem explicado. Que tipo de arma tem tanto alcance? Por que o PM atirou. Etc.

Meu Deus! Rezo para essa jornalistada um dia aprender a trabalhar. Depois reclamam quando perdem o emprego – ou quando o jornal fecha as portas.

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