Marcos Machado

O povo brasileiro, em teoria, é o detentor do poder, mas, na prática, o que se vê é uma população sem qualquer ingerência real sobre os rumos da nação. Nos concedem o direito de votar, e apenas isso. Votamos, mas não temos o poder de ‘desvotar’. Erramos, mas não temos mecanismos eficazes para corrigir nossas escolhas antes que causem danos irreparáveis. Elegemos representantes, mas não temos qualquer controle sobre suas ações. Estamos em uma democracia do “faz de conta”.
Nossos governantes, uma vez eleitos, tornam-se figuras inalcançáveis, rodeadas de assessores e protegidas por estruturas que impedem qualquer fiscalização popular efetiva. O eleitor, reduzido a uma mera estatística nas urnas, não tem como obrigá-los a cumprir promessas ou respeitar compromissos assumidos. As campanhas eleitorais são recheadas de discursos sedutores, mas a realidade que se impõe após a posse é outra: um jogo de interesses, onde os detentores do poder atendem a pressões econômicas, partidárias e ideológicas, menosprezando aqueles que os elegeram.
A maioria da população desconhece o básico da convivência política. Focada na satisfação de necessidades primárias, como a próxima refeição ou um teto para dormir, permanece à margem dos grandes debates nacionais. Essa alienação é conveniente para os que dominam o sistema, pois um povo consciente e participativo representa uma ameaça ao status quo.
Nos últimos anos, assistimos a uma verdadeira odisseia jurídica, um flagelo legislativo e uma orgia executiva. O Judiciário, que deveria se ater à aplicação da lei, navega em interpretações esdrúxulas, e passou a legislar, interferindo nos demais poderes de forma descarada. O Legislativo, que deveria ser a voz do povo, transformou-se em um mercado de interesses, onde projetos de lei se tornam moedas de troca. O Executivo, muitas vezes, age sem freios ou contrapesos, ignorando os anseios populares e promovendo gestões desconectadas da realidade do cidadão comum.
Para piorar, somos também dominados por não eleitos: burocratas, assessores, organismos internacionais e instituições que exercem enorme influência sobre as decisões do país, sem que tenham recebido um único voto sequer. O povo, que deveria ser o verdadeiro soberano, assiste impotente a esse teatro de interesses que decide o destino da nação.
Onde estão aqueles que juraram proteger a pátria com a própria vida? Muitos se omitem, alheios às graves ameaças à soberania nacional. A negligência e a conivência dos que deveriam agir apenas agravam o sentimento de abandono e impotência coletiva.
O Brasil precisa urgentemente de um despertar cívico. Enquanto a população não se conscientizar do seu papel ativo na democracia, continuaremos sendo reféns em nossa própria terra. O poder emana do povo, mas somente quando esse povo decide exercê-lo de verdade. Caso contrário, permaneceremos prisioneiros de um sistema que nos concede apenas a ilusão da escolha, mas nunca o verdadeiro controle sobre o nosso destino.
*Jornalista profissional diplomado, editor do portal Do Plenário, escritor, psicanalista, analista sensorial, adesguiano, consultor de conjunturas e cidadão brasileiro protegido (ou não) pela Constituição Brasileira, um refém rebelde.