Marcos Machado*
O termo não é meu, ouvi, ou li, há muito tempo e aqui utilizo: brasileirista. Isto, para comentar o comentário de uma comentarista do “canal UOL”, sobre a manifestação do dia 25 de fevereiro, na Avenida Paulista. “Me assustou o tanto de gente, era muita, muita, muita gente”, começa a moça demonstrando perplexidade. Realmente, os números são conflitantes, como em qualquer mobilização da sociedade conservadora brasileira, mas não vamos nos distrair com essa discussão paralela. Para quem tem memória, na última manifestação contra Dilma Rousseff, que desencadeou o processo de seu impeachment, a avaliação era de que 2,5 milhões de pessoas havia participado, só na Paulista. Então, basta comparar as imagens e definir uma aproximação. No entanto, essa também não é a ponderação, agora.
Acertou a comentarista ao dizer que nem todo mundo que participou da manifestação é bolsonarista. Correto! A maioria é brasileirista e votou em Bolsonaro por uma questão de circunstância. É dispensável relacionar as razões para isso, mas resumindo, porque ele é o único político de ponta que alinha seu discurso e suas ações ao pensamento da maioria da sociedade. Sim, pesquisa de opinião já comprovou isso, que a maioria do povo brasileiro é conservadora. Nesse contexto, temos os de direita ortodoxa, mais radicais, e os de direita puxando para o centro. É, também por isso, que muita gente diz que a conta da eleição não fecha, e não fecha, mesmo.
A comentarista avalia a visão da esquerda minoritária como de uma “realidade alternativa”. É claro, para alimentar discursos próprios do segmento, só vivendo, mesmo, em um universo paralelo, ou por ter algum tipo de favor do sistema, ou meramente por acometimento de um delírio psicodélico. O que dizem não condiz com a realidade de jeito nenhum.
Ah! Minha cara, não se trata de “antipetismo” simplesmente, é anti-tudo o que foi descortinado no país a partir da lava-jato. Foi a partir daí que a classe média brasileira saiu do casulo, do estado de contemplação. Afinal, a classe média (distribuída nos níveis B, C e D) é quem sustenta o país e define eleição. Sim, ricos não elegem e não contribuem significativamente e os pobres bem menos, ainda. Quem movimenta a economia e elege é a classe média, desde o ajudante geral, diarista, que vai às seis horas para a parada de ônibus, ao médico, engenheiro, advogado.
Pois é, não foi Luiz Inácio com seu rosário de imbecilidades proferidas, ou as declarações contra Israel, que induziu a multidão a aderir ao protesto. Essa visão é míope, de raciocínio raso. É todo um estado de coisas, especialmente as atrocidades político-jurídicas que vêm sendo praticadas ao arrepio da Constituição e dos Códigos, com a respectiva passividade do Congresso Nacional. É ele, o parlamento, o único Poder efetivamente de uma democracia, já que condensa os anseios do povo. Se o poder emana do povo, então sem voto não há poder republicano, ao menos deveria ser assim. A mensagem foi clara para os políticos encastelados no Congresso Nacional, especialmente. Político vive de voto, e quem dá voto é a classe média.
Nem precisamos falar dos rombos, dos gastos faraônicos do Executivo com suas viagens inúteis para o país, consumindo bilhões do dinheiro do povo. Essa fase de condescendência com os gastos públicos ficou no passado. O cidadão entende, agora, que ele paga a conta.
Engana-se quem acha que noticiários na tevê manipulam mais a classe média. Não mais. Podem continuar dizendo todas as baboseiras de sempre, repetindo como papagaio o que os alexandres e lulas da vida vociferam não convencendo nem mais seus satélites. Se quiser, converse com o pedreiro, e seus ajudantes gerais, que acabaou de fazer uma reforma aqui em casa, ou com minha assessora técnica especializada para assuntos de assepsia doméstica (diarista). Aí, sim, você vai ficar assustada, perplexa, estupefata, pasmada, atônita e assombrada com o nível de discernimento político deles que não estão esperando pela picanha, nem são parasitas sociais.
Também, não, minha cara. A direita não estava nem está “combalida”, nem o Bolsonaro, ou o tal bolsonarismo, e a gente sabe que ele é um bode expiatório do sistema. Não que seja perfeito, deus, ou coisa parecida, mas ninguém gosta de ver injustiças cometidas por quem deveria zelar pela justiça. Sério que vocês acreditam que a gente acredita nos julgamentos e condenações absurdas? Só mesmo em um universo paralelo. A gente até poderia entrar naquela discussão sobre a eleição, mas vamos deixar para lá. Agora, vale aquela máxima de que contra fatos não há argumentos.
No mais, percebemos que os dois políticos, representante do povo, em tese, mais importantes do momento, parece que resolveram encerrar as respectivas carreiras políticas. Rodrigo Pacheco e Arthur Lira. Essa cumplicidade com os desmandos que acontecem será cobrada, tenha certeza. Pacheco foi eleito pela direita mineira, e a esquerda não votaria nele, nem se se aliasse oficialmente ao Luiz. É fim de carreira, muito provavelmente. Lira, no entanto, conta com o voto das corrutelas nordestinas assoladas pela miséria recorrente. Quem sabe que tipo de informação chega por lá.
Bolsonarismo tem tudo a ver com brasileirismo, mas uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa, diria uma antiga e sábia amiga.
*Jornalista profissional, psicanalista, analista sensorial, adesguiano, consultor de conjunturas e cidadão brasileiro protegido pelo artigo quinto da Constituição Brasileira.