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quinta-feira, dezembro 12, 2024

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Assassinos da Língua

Marcos Machado

Deparei-me com a alegre surpresa de assistir a alguns minutos de um filme legendado com o Português português no fim da tarde na amc (AMC Networks). Verbos aplicados corretamente, pontuação certeira, entre outros aspectos que me desanimam quando deliberadamente não aplicados em outros canais. Qual é o problema com os legendadores nacionais? O assassinato da Língua é uma ação coordenada e deliberada?

Em alguns casos, o nívei da Língua utilizado nas legendas dos filmes é tão rasteiro e inadequado que, irritado, opto pelo ‘sem legendas’ arriscando meu pobre e primário Inglês. Aliás, o meu Português também não é tão avançado, mas aprendi a conjugar verbos, principalmente não substituindo o imperativo pelo presente do indicativo. Isto, inclusive, a troca de um tempo verbal pelo outro, muda o sentido. Uma ‘ordem’ e uma ‘ação presente’ são coisas diferentes.

Agora me explico sobre o porque de alguns minutos do filme, apenas. O filme protagonizado por aquela mocinha sueca, a Alicia Amanda Vikander, foi um acaso na minha maratona com o controle remoto. Aqui em casa o pessoal sabe que assisto a três, quatro, cinco coisas ao mesmo tempo, e às vezes levo uma semana para terminar um filme. Eu me entedio facilmente, tenho certa dispersão, ou mente inquieta (há variantes que chamam hoje de déficit de atenção), e fico saltando os canais que são muitos. Quando o Português é sofrivel, então…

Suponho que as pessoas contratadas para o serviço sejam alfabetizadas, afinal fazem até tradução que, sem muito ter o que observar, não avalio (a tradução), fico na crítica ao Português correspondente. Conseguem até disfarçar o indefectível ‘fuck you’ com outras expressões mais brandas, já que na nossa Língua deveria ser traduzido como ‘vá se foder’, e não como aparece até em site de tradução no presente do indicativo ‘vai’. Quando se diz vai, a pessoa já está à caminho, não implica em uma ordem, determinação, comando. Uma situação lamentável.

Assim, ‘vá à merda’ é uma ordem, um comando, enquanto que ‘vai à merda’ é uma ação em execução, ou seja, a criatura já está indo, não precisa mais mandar ir.

Enfim, trata-se de uma ação deliberada de assassinato do idioma? Da destruição gradativa da linguagem por meio da massificação dos erros? Não me venha com o papo-furado da tal evolução da Língua. Nem o estadunidense com seu sotaque anasalado e pobreza linguística faz tantas sandices, exceto, é claro, com a substituição do ‘yes’, pelo “iá”; um nojo. Em um ônibus em Londres, a conversa entre duas estadunidenses quase me tira do sério com tanto “iá iá iá iá”… Os britânicos lançavam olhares de repreensão. O “yes” é clássico, sonoro, elegante, sedutor, assim como nossos tempos verbais.

Por que fazem essas coisas? Por que é tão difícil produzir legendas com a redação correta observando nossas regras básicas? Não falo de linguagem rebuscada, ou arcáica, mas tão primitivamente fundamental, daquela que a gente aprende antes do ensino médio.

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