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quinta-feira, dezembro 12, 2024

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Yanomami: O horror! O horror!

Ray Cunha

Os clássicos são, todos eles, contemporâneos, e sempre que os lemos lançam luzes sobre a existência. O Coração das Trevas, de Joseph Conrad, é um deles. Foi publicado inicialmente em 1899, em três partes, na Blackwood’s Magazine, e depois como livro, em 1902, em Londres.

Charles Marlow, inglês, é contratado como capitão de um barco a vapor para transportar marfim rio Congo abaixo para uma companhia de comércio belga. Na época, o Congo era propriedade do Rei Leopoldo II da Bélgica. Na primeira e única viagem que Marlow fez, tomou para si a tarefa de regatar o sr. Kurtz, um dos mais brilhantes agentes da empresa, das entranhas da selva, onde Kurtz começa a mostrar sintomas de loucura, a se sentir um deus perante os nativos, e se torna carta fora do baralho da empresa.

Leopoldo II (1835-1909), o segundo Rei dos Belgas, de 1865 até sua morte, torna-se dono do Estado Livre do Congo, de 1884 a 1908. O regime imposto à colônia africana por Leopoldo II foi um dos episódios mais infames da humanidade. Oficiais belgas assassinavam congoleses como se estivessem praticando tiro ao alvo. A antiga colônia é hoje a República Democrática do Congo.

Leopoldo II constituiu, em 15 de abril de 1891, a Companhia do Catanga, para explorar borracha e marfim no Congo, escravizando os nativos e os tratando com espancamento, mutilações e assassinatos. Estima-se que os belgas mataram, ao menos, um milhão de congoleses.

O Coração das Trevas inspirou Francis Ford Coppola a realizar o filme Apocalypse Now (1979), transferindo a ação para a guerra do Vietnã e colocando o sr. Kurtz como um coronel americano (Marlon Brando) que enlouquece e se refugia na selva vietnamita.

O colonialismo na África é semelhante ao praticado na Amazônia. Enquanto na África a febre é por marfim e diamante, na Amazônia é por ouro, e a temperatura se elevou brutalmente nestes tempos de mordaça e demência.

A Amazônia concentra, hoje, 94% – 100 mil hectares – dos garimpos no Brasil, de acordo com o MapBiomas. Metade desses garimpos é ilegal e também metade se encontra em áreas protegidas. De 2010 a 2020, garimpos em terras indígenas cresceram 495%; e nas unidades de conservação cresceram 301%. A contaminação por mercúrio de rios e peixes próximos a aldeias Yanomami é assustadora.

Pior do que os Yanomami, que vivem ao norte do estado do Amazonas, na fronteira com a Venezuela, estão os Kayapó, no sul do Pará, e os Munduruku, no sudoeste do estado. Porém os Yanomami são o caso mais escandaloso, porque estão no holofote. Marina Silva, ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, acusa o ex-presidente Jair Bolsonaro de ser responsável pela situação dos Yanomami. A acusação é absurda. Enquanto isso, seu patrão, Lula, está mais preocupado em acabar com a guerra entre a Rússia e a Ucrânia convidando Putin e Zelensky para uma rodada de 51.

Uma foto, cedida pelo Centro de Documentação Indígena para divulgação, feita em 17 de abril de 2021, na comunidade Maimasi, em Roraima, é emblemática. Mostra uma menina, de 7 ou 8 anos, diagnosticada com malária, pneumonia, verminose e desnutrição, agonizando em uma rede.

O Ministério da Saúde informou que a menina foi removida cinco dias depois que a foto foi feita por transporte aéreo para Boa Vista, onde foi internada no Hospital da Criança Santo Antônio.

– Essas aldeias estão abandonadas. Todas elas sem assistência. Não há equipes. A equipe é desfalcada de pessoas. Têm postos de saúde que estão fechados há meses na Terra Yanomami – afirma o missionário Carlo Zacquini, que dá assistência aos Yanomami desde 1968.

Maior reserva indígena do país, a Terra Yanomami fica entre os estados do Amazonas e Roraima, na fronteira com a Venezuela. Mais de 26 mil indígenas habitam a região, em cerca de 360 aldeias.

Lula prometeu, várias vezes, resolver o problema dos Yanomami. A Secretaria de Comunicação da Presidência da República (Secom) afirmou à BBC News Brasil que o governo investiu um bilhão de reais em ações voltadas ao povo Yanomami, em 2023. Onde foi parar esse dinheiro? Afirmaram ainda que este ano serão 1,2 bilhão de reais. Desta vez os Yanomami vão tirar a barriga da miséria.

Os Yanomami são a ponta do iceberg. A Amazônia brasileira tem 4.196.943 quilômetros quadrados, 59% do território nacional. Se fosse um país, seria o sexto maior do mundo em extensão territorial. Tem 38 milhões de habitantes. Trata-se da mais rica província biológica e mineral do planeta. Conquistada pelos portugueses e legada ao Brasil, está entregue à própria sorte.

Com o advento da internet, até os cachorros já sabem o que se passa lá. Tráfico de minerais, animais, pessoas (principalmente crianças e mulheres para escravidão sexual), narcotráfico, máfias (conhecidas como facções), desvio de verbas, enriquecimento ilegal, garimpos, poluição, assassinato, estupro, o coração das trevas, o horror, o horror!

As trevas, o horror, no romance de Joseph Conrad, não é o valor da vida dos congoleses. Nem os canibais que trabalham no vapor comandado por Marlow, ou a carne podre de hipopótamo que eles comem, já que Marlow não os deixava abaterem outro ser humano, que não fosse da etnia deles, para comer. As trevas, o horror, são a ignorância.

Há as trevas das pessoas simples, alienadas, e as trevas das pessoas instruídas, mas que gozam torturando e matando. Gozam, sobretudo, manipulando dinheiro, como os 51 milhões de reais que a Polícia Federal encontrou escondidos em várias malas em um apartamento alugado pelo ex-ministro da Integração Nacional (2007- 2010), Geddel Vieira Lima, em Salvador, em 2017.

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