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sexta-feira, maio 2, 2025

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Propaganda, ou lavagem cerebral com selo institucional?

*Marcos Machado

Tem hora que parece que a gente não está vivendo num país, mas num episódio inédito de ‘Black Mirror’ versão tupiniquim, ou tendo um pesadelo dentro de um pesadelo, como no filme ‘A Origem’. A diferença? Aqui o roteiro é escrito por marqueteiros públicos com orçamento ilimitado e senso moral discutível. Sério, alguém aí dê um chute. Quero acordar desse delírio coletivo com fundo de novela mexicana e trilha sonora de jingle governamental.

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Li e reli, achando que era piada e, de certa forma, é: o governo federal vai gastar bilhões em 2025 para tentar melhorar sua imagem pública. Isso mesmo. Bilhões. Com B de “Bravíssimo! Conseguimos transformar propaganda institucional em campanha eleitoral antecipada, disfarçada, e paga com verba pública”, ou seja, com o dinheiro do contribuinte brasileiro. O truque? Chama-se “legalidade com pitadas de imoralidade”, ou, para os íntimos, “instrumento legítimo de comunicação institucional”.

Enquanto o brasileiro médio desvia de buracos, alagações, filas na UPA e reajustes de luz que fariam um poste chorar, o governo segue firme no projeto “Brasil: a ilusão continua”. Afinal, não importa se a realidade é feia, se a maquiagem da propaganda for cara o suficiente, talvez a população só veja o batom vermelho e não perceba o olho roxo da gestão.

A desculpa institucional é sempre um primor de retórica orwelliana: “divulgar direitos”, “informar o cidadão”, “ampliar a transparência”. Traduzindo para o português realista: “transformar incompetência em marketing e vender como política pública”. É tipo chamar maquiagem de cirurgia plástica. O problema não é só o dinheiro gasto, embora isso por si só já seja um escândalo de proporções imensuráveis, mas o cinismo envolvido no processo. A falta de pudor virou diretriz estratégica.

O mais hilário, ou trágico, dependendo do seu nível de sarcasmo, é que essa farra do marketing pessoal pago com o dinheiro do contribuinte não é um privilégio federal. Ah, não. É um esporte olímpico disputado em todas as esferas do poder. O governo de Brasília-Distrito Federal, por exemplo, é um entusiasta da prática do “recolhe do cidadão, gasta com autopromoção”.

você paga a propaganda que tenta te convencer de que você está vendo errado

Claro, nada disse se faz de forma escancarada, porque poderia causar problemas com o Ministério Público ou Tribunal de Contas. É uma ‘venda casada’, proibida até no Código do Consumidor, e de forma velada, sutil, sem comprovação ou recibo. Como contrapartida se publica reportagens fartamente oferecidas pela “agência de notícias” do governo, que deveria ser instrumento de Estado, e virou puxadinho de comitê eleitoral. Mas isso é uma ‘ação entre amigos, do amigo…’ Assim, os fiscalizadores deixam passar.

Tentou marcar um exame pela rede pública de saúde? Caiu na cilada de depender de algum serviço público recentemente? Parabéns, você já é patrocinador oficial da propaganda que tenta convencê-lo de que tudo isso está funcionando às mil maravilhas, você é que não percebeu. Não se esqueça: você paga a propaganda que tenta te convencer de que você está vendo errado, e até convence, na maioria das vezes.

A ironia é que, se a gestão pública funcionasse minimamente, não haveria necessidade de propaganda alguma. Os serviços falariam por si, mas como o que se tem são retrocessos, escândalos e improvisos, resta inflar o ego administrativo com campanhas que mais parecem trailers de um filme que nunca estreia.

Se você sente que está preso num pesadelo dentro de um pesadelo, como em ‘A Origem’, é porque está mesmo. Só que aqui, em vez de cair numa banheira para acordar, o susto vem em forma de boletos, filas e a eterna sensação de que o Brasil é governado por uma trupe de publicitários com alergia a resultados.

Alguém aí dê um chute. Quem sabe a gente acorde desse pesadelo.

*Jornalista profissional diplomado, editor do portal Do Plenário, escritor, psicanalista, cientista político ocasional autoproclamado, analista sensorial, enófilo, adesguiano, consultor de conjunturas e cidadão brasileiro protegido (ou não) pela Constituição Brasileira

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