Início ARTIGOS Patético fim de uma história mal contada

Patético fim de uma história mal contada

0

“Ainda estou aqui”, mas o público já foi embora

Marcos Machado

Nem adiantou ‘comprar’ (não no sentido literal) o prêmio. Depois que parentes, amigos mais íntimos, desavisados, curiosos por vício e outros incautos assistiram, parece que o público minguou e a Sony tirou o filme versão ‘mimimista’ das salas de exibição. Pois é, o grande oscarado “Ainda estou aqui” já saiu do cartaz que mal entrou. Os produtores não levaram em conta que a classe média, aquela parcela da sociedade que realmente consome, que sustenta a economia, que tem como pagar a entrada do cinema com pipoca, já não se encanta tanto mais com qualquer coisa, especialmente com viés ideológico de esquerda.

Dizem que é uma história, mas eu prefiro classificar como versão. Uma, inclusive, de má qualidade que omite circunstâncias históricas e políticas, tanto nacional, quanto mundial, mergulhando no vitimismo clássico dos esquerdosos.

Esclareço: sou contra a violência, seja ela de direita ou de esquerda e considero qualquer morte, ou desaparecimento, decorrente de ações políticas, uma tragédia evitável, mas é preciso considerar a época, os fatos históricos. Penso que crimes cometidos devam ser investigados e seus autores punidos, independente da ideologia ou corrente política a que pertençam, mas desde que com imparcialidade, e dentro do devido processo legal previsto no estado democrático de direito. Vingança não é justiça.

Pois é, o patético fim de uma história mal contada, ou de uma versão que quis macular a história a partir de uma tragédia evitável.

O mundo estava em guerra. O capitalismo contra o socialismo. A liberdade contra a opressão. O bem contra o mal. Falam que foi um golpe em 1964, mas foi um contragolpe. O Brasil estava à beira de uma ditadura comunista e os militares reagiram ao clamor da sociedade, mas essa é outra história e, provavelmente, ninguém vai fazer filme dela.

O enredo, dizem os autores, é “baseado em fatos reais”, mas a frase correta seria “baseado em fatos selecionados, cuidadosamente editados e recontextualizados para caber numa fábula ideológica”. Porque, convenhamos, chamar de “história” algo que ignora completamente o contexto geopolítico da Guerra Fria é como tentar contar a Segunda Guerra Mundial sem mencionar Hitler.

Estamos falando dos anos 60 e 70. A União Soviética financiava movimentos armados mundo afora. Cuba era modelo de paraíso socialista com campos de trabalho forçado e o Brasil, sim, aquele Brasil do samba e da feijoada, estava na fila para virar mais uma estrela vermelha no globo. A reação dos militares, por mais tortuosa e condenável que tenha sido em alguns aspectos, não surgiu do nada. Foi, como gostam de dizer os próprios progressistas em outros contextos, “uma resposta ao sistema”, mas isso, claro, não rende Oscar.

Como foi dito em um meme no Instagram, nunca vi tanto filme bosta ser premiado…

Falando em Oscar… ah, o Oscar. Aquele evento que já foi celebração da arte cinematográfica e virou desfile de sinalização de virtude. Se antigamente premiava talento, hoje premia causas. A Academia parece mais preocupada em agradar o comitê do politicamente correto do que reconhecer excelência artística.

Há muito tempo que os velhinhos tarados da tal academia vêm fazendo coisas inexplicáveis. Como foi dito em um meme no Instagram, nunca vi tanto filme bosta ser premiado…

Tarados, porque, percebe que o prêmio de melhor atriz tem sido dado às novinhas? E nem tão talentosas assim, até caricatas, no meu parco modo de analisar cinema. As novinhas bonitinhas (e isso me faz lembrar o título de um filme nacional das antigas) têm até um talento mediano, mas daí a Oscar… A Fernanda não tinha a menor chance, pois já passou da faixa etária e não atende aos requisitos ‘artísticos’ pertinentes.

Algumas não mereceram, mesmo, e considero a Mikey Madison uma parcialmente acertada escolha. Por mim, teria dado pelo filme “Era uma Vez em… Hollywood”, onde ela interpreta uma esquerdofrênica noiada. Performance sensacional, especialmente quando é brutalmente confrontada em suas convicções pelo Cliff Booth (Brad Pitt) e dá o maior ataque histérico (típico de quando um esquerdista é confrontado com a realidade) que só é aplacado com a incineração na piscina. Ela foi ótima!

Quando tudo der errado, é só repetir o mantra: “a sociedade não está preparada”

Voltando ao nosso “épico” nacional, o problema de Ainda Estou Aqui não é só ser de esquerda. O problema é ser ruim, também. Raso. Anacrônico. Preguiçoso no roteiro e desonesto na proposta. Faz uso da tragédia para vender tese, substitui complexidade histórica por slogans, e transforma vítimas reais em caricaturas úteis.

A tentativa de canonizar o discurso vitimista, ignorando completamente os erros, equívocos e até crimes cometidos por certos “resistentes”, é o tipo de revisionismo equivocado. A esquerda brasileira parece decidida a filmar todos os seus fracassos como épicos de resistência, mesmo que ninguém assista e, pior, mesmo que ninguém acredite.

Ainda Estou Aqui não emocionou. Não comoveu. Não causou impacto. Talvez isso seja um sinal dos tempos: o público cansou. Cansou de ser tratado como idiota. Cansou de assistir a filmes que entregam panfleto ao invés de arte e, acima de tudo, cansou de ser cobrado por não aplaudir uma história mal contada.

O cinema nacional pode (e deve) tratar de temas históricos, mas quando o faz com honestidade, com coragem, com o devido respeito à complexidade dos fatos e à inteligência do público. Até lá, a tendência é continuar colecionando fracassos maquiados de “obras premiadas” com batom vermelho.

Quando tudo der errado, é só repetir o mantra: “a sociedade não está preparada”. Porque, claro, o problema nunca é o filme: é o espectador.

*Jornalista profissional diplomado, editor do portal Do Plenário, escritor, psicanalista, analista sensorial, adesguiano, consultor de conjunturas e cidadão brasileiro protegido (ou não) pela Constituição Brasileira

SEM COMENTÁRIOS

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Sair da versão mobile