Em último dia de depoimento, a CPI, na Câmara Legislativa de Brasília-DF, das manifestações constitucionais e democráticas do dia 8 de janeiro, na quinta-feira (16), o depoente foi Coronel Reginaldo Leitão, que comandava o Centro de inteligência da Polícia Militar de Brasília no dia da tentativa de invasão da sede da Polícia Federal, em 12 de dezembro do ano passado, e no dia da invasão às sedes dos três poderes em 8 de janeiro.
O coronel, que não fez questão de ser acompanhado por advogado, negou que tenha ocorrido um “apagão nas forças policiais”, como chegou a ser dito pelo governador Ibaneis à época. Ele explicou que a atuação da força de inteligência se baseava em monitorar a movimentação de manifestantes mais radicalizados que oferecessem algum risco. Ele afirmou que todas as informações obtidas pela inteligência sobre os acampamentos em frente ao QG do exército foram repassadas ao comando da Polícia Militar e Polícia Civil e também ao Supremo Tribunal Federal (STF).
Questionado em diversos momentos sobre a forma como a inteligência avaliava o potencial de risco dos manifestantes acampados, o militar afirmou que o movimento apresentava baixa adesão após a posse de Lula.
No entanto, que já nas vésperas do dia 8, as coisas mudaram repentinamente, pois a inteligência identificou uma leva de manifestantes se dirigindo de ônibus à capital. Dados da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) davam conta da chegada de cerca de 150 ônibus e essa movimentação reascendeu um alerta. Ele afirmou ainda que, nos dias 7 e 8, foram enviadas 837 mensagens sobre o crescimento do movimento. “Do dia 7 para o dia 8, houve um crescimento muito abrupto do movimento. A gente realmente percebia uma agressividade crescente, mas não tínhamos noção de que aconteceria a desgraça que aconteceu no dia 8”, afirmou.
Ainda sobre as operações de enfrentamento no dia 8, o coronel contou que parte dos manifestantes utilizavam bolas de gude, estilingue e máquinas de choque. A fala foi utilizada pelo deputado Thiago Manzoni (PL) para afirmar que os manifestantes não pretendiam dar um golpe de estado, como é frequentemente mencionado na CPI. “Ninguém dá golpe de estado com bolas de gude e estilingue”, afirmou.
O distrital argumentou que a postura dos invasores é muito semelhante à de grupos denominados “Black Blocs”, que ficaram conhecidos nas manifestações que se espalharam pelo país em 2013. Manzoni chegou a falar que as invasões de janeiro podem ter sido praticadas por esse grupo, que seriam “infiltrados” ligados à esquerda.
Relatório da CPI
O relator da comissão, depurado Hermeto (MDB), marcou para 29 às 9h a apresentação do relatório da CPI aos demais membros do colegiado. A votação ocorrerá no mesmo dia após leitura do documento.
“O relatório não vai fazer ilações, ele vai dizer claramente o que realmente aconteceu. Eu não vou me deixar levar por ‘oba-oba’. No relatório vai constar o indiciado e os motivos do indiciamento. Eu tenho certeza que nosso relatório será instrumento de justiça”, afirmou.