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Linguagem neutra é dos fracos, quero que falem é a língua do ‘P’

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*Marcos Machado

Virou bagunça geral: um atentado explícito contra o idioma brasileiro, contra o Latim, contra o Português clássico e contra o pouco de bom-senso que ainda resistia na educação nacional. Agora a tal “linguagem neutra”, essa aberração linguística de laboratório, foi liberada com aval judicial, em mais uma demonstração de que a decadência educacional do Brasil não só continua como é cumprimentada.

Desde a formação do português brasileiro, a língua foi marcada por uma sólida evolução histórica. Vinda diretamente do Latim vulgar, o Latim falado pelo povo, o Português foi enriquecido ao longo dos séculos por influências árabes, germânicas, africanas e indígenas. Em todos os momentos se respeitou a lógica interna da língua: flexões de gênero e número são estruturais, não decorativas. Em outras palavras, as marcas de gênero no Português não surgiram como uma mera “opressão cultural”, elas fazem parte da arquitetura viva do idioma, da sua coerência gramatical e da sua capacidade de comunicação.

60% dos estudantes brasileiros do ensino médio têm dificuldades graves de leitura e interpretação de textos simples

A chamada linguagem neutra tenta sabotar isso, substituindo a lógica natural do idioma por invenções como “todes”, “amigues” ou pronomes como “elu/delu”. Defensores alegam que seria uma forma de inclusão para pessoas não-binárias, mas ignoram que essa mudança artificial gera consequências reais: confunde crianças em processo de alfabetização, prejudica a compreensão de pessoas com deficiência visual (que dependem de leitores de tela programados para o português padrão), e ainda torna o aprendizado da própria Língua portuguesa mais difícil em um país que já amarga índices alarmantes de analfabetismo funcional.

Dados recentes do INEP (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira) revelam que quase 60% dos estudantes brasileiros do ensino médio têm dificuldades graves de leitura e interpretação de textos simples. Em um cenário desses, querer emplacar um “novo idioma” para satisfazer ideologias de minoria é, no mínimo, irresponsável, no máximo, um projeto consciente de destruição cultural.

Essa tal linguagem neutra é para os fracos da mente, da educação, da alfabetização e do equilíbrio. No meu tempo de criança, a gente falava era a língua do ‘P’ e, garanto, essa geração, ou melhor, essa horda da linguagem neutra, não daria conta, porque a língua do ‘P’ exige alta performance cognitiva, raciocínio rápido e destreza verbal, habilidades que, hoje, são solenemente desprezadas em troca de slogans fáceis.

Evanildo Bechara, um dos maiores gramáticos vivos do Brasil, é categórico:

“O sistema da língua portuguesa não é caprichoso. Gênero e número são categorias estruturais. A imposição de uma linguagem neutra artificial é uma violência contra o sistema linguístico.”

Bechara alerta que abandonar as bases do idioma seria criar uma torre de Babel interna, prejudicando especialmente as camadas mais vulneráveis da população, exatamente aquelas que mais dependem de uma educação sólida para ascender socialmente.

Marcos Bagno, linguista e autor de A Língua de Eulália, defende que a língua deve se adaptar para ser mais inclusiva. Ele afirma: “a Língua é viva, muda conforme as necessidades sociais. Se novos grupos sociais demandam novas formas de expressão, o idioma deve atender a essas demandas”.

Bagno acerta ao lembrar que a língua é viva. Porém, confunde evolução orgânica com imposição artificial. Uma língua viva se adapta quando há consenso e uso espontâneo, não quando meia dúzia de burocratas e militantes tentam reescrevê-la por força de lei, campanha publicitária ou decisões judiciais.

O que está acontecendo é a oficialização da mediocridade, a substituição da educação sólida pela cartilha ideológica e quem deveria proteger nossa língua, nossa cultura e nosso futuro (escolas, universidades, tribunais) se rende covardemente, aplaudindo cada passo da própria rendição. Linguagem neutra é dos fracos. Difícil mesmo é manter viva a força do idioma contra a onda da ignorância.

É inacreditável! Eu já esculhambava os indivíduos que adotavam os “todos” e “todas” inadvertida e inadequadamente como se fosse um modelo de inclusão. Bobagem, não inclui, exclui e afronta a quem entende um mínimo de Português.

O Brasil vai se consolidando como uma nação de analfabetos que até sabem ler e escrever.

*Jornalista profissional diplomado, editor do portal Do Plenário, escritor, psicanalista, cientista político ocasional autoproclamado, analista sensorial, enófilo, adesguiano, consultor de conjunturas e cidadão brasileiro protegido (ou não) pela Constituição Brasileira

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