Incentivar a prática do ecoturismo regional, gerar renda e desenvolvimento para a região, estimular o turismo de base comunitária e torná-lo referência, integrar a comunidade que vive no entorno do Parque Estadual Serra do Intendente são algumas das expectativas com a criação da Rota das 10 Cachoeiras. O projeto foi desenvolvido pelo Instituto Estadual de Florestas (IEF), por meio da gerência da unidade de conservação, em parceria com a Prefeitura Municipal de Conceição do Mato Dentro, na região Central de Minas, e apoio das associações comunitárias da região.
A Rota das 10 Cachoeiras totaliza um percurso de 43,5 quilômetros em seu eixo principal e 91 quilômetros, caso o visitante queira visitar todas as cachoeiras. O caminho atravessa comunidades do entorno dos parques Estadual Serra do Intendente e Natural Municipal do Tabuleiro, podendo ser percorrido preferencialmente de bicicleta, a pé ou a cavalo. Para percorrer o trajeto completo do caminho, incluindo a visita em todas as cachoeiras, leva-se, em média, oito dias a pé e cinco dias de bicicleta ou cavalo. Também é possível percorrer a rota por trechos durante os finais de semana.
Ao longo do caminho o visitante pode conhecer até dez cachoeiras. No sentido sul-norte, as cachoeiras são: Três Barras, Peixe Cru, Quedas do Ribeirão do Campo, Tabuleiro, Congonhas, Altar, Rabo de Cavalo, Bocaina, Gurita e Prainha. O trajeto evidencia o grande potencial turístico da região, com unidades de conservação, presença de comunidades tradicionais (gastronomia e artesanato), além das paisagens cênicas constituídas de uma rica biodiversidade.
O gerente do Parque Estadual Serra do Intendente, Marcos Alexandre dos Santos, disse que a Rota das 10 Cachoeiras trouxe a oportunidade de aproximar a unidade de conservação às comunidades do entorno. “É gratificante saber que estamos contribuindo de alguma forma para geração de renda, por meio do turismo de base comunitária. Além disso, melhor ainda é ver as comunidades se apoderarem do projeto, principalmente com a recente criação da Associação Comunitária da Rota das 10 Cachoeiras”, destacou.
Segundo a secretária Municipal de Turismo de Conceição do Mato Dentro, Rejane Ottoni, a iniciativa tem uma importância enorme para a região. “É uma excelente oportunidade para o visitante conhecer as belezas naturais e histórico-culturais que estão inseridas na cidade de Conceição do Mato Dentro e seus distritos. É também uma oportunidade de melhoria de renda e vida para os moradores da região, e de engajamento com o turismo. Além disso, a administração pública do município assumiu o projeto como prioritário na agenda”, disse.
Para ter melhor experiência e conforto, é recomendável a contratação de condutores locais. Dessa forma, o turista colabora com o desenvolvimento do turismo responsável na região. Também é possível contratar receptivos locais que oferecem a comodidade de montar todo o seu roteiro de acordo com sua expectativa.
Para o morador da comunidade, proprietário de restaurante e de hospedagem, Ivan Mendes, a Rota das dez Cachoeiras tem fomentado o turismo local, dando incentivos para que os moradores possam investir e oferecer trabalhos de qualidade aos turistas, que praticam atividades oferecidas durante o percurso. “É importante a criação de oportunidades para que os moradores possam desenvolver seus negócios, vender produtos e serviços, além de continuar como moradores nativos, preservando suas culturas e costumes, agregando valores para toda a sociedade e fortalecendo, cada vez mais, as boas parcerias”, explicou.
A Rota das dez Cachoeiras é signatária da Rede Brasileira de Trilhas de Longo Curso, trilhas que são enormes corredores ecológicos e se transformam em ferramentas reconhecidas pela legislação brasileira para ampliar a conectividade entre áreas preservadas, garantindo manutenção da vida selvagem e da melhoria de indicadores ecológicos.
Sinalização
A sinalização do trajeto usa como referência o Manual do Sistema Brasileiro de Sinalização de Trilhas (MMA/ICMBIO), fundamentado no estilo de trilhas internacionais. Seu principal objetivo é ser uma ferramenta de manejo para unidades de conservação e implantação de rotas de travessias, minimizando os impactos causados por trilhas mal ou nada sinalizadas, padronizar a implantação de uma sinalização e fazer com que o visitante não se sinta inseguro ou se perca na unidade de conservação.
A rota é dividida por trechos para facilitar a logística e os trabalhos de cada comunidade da região: o Trecho A é abarcado pelas comunidades de Três Barras e Cubas; o Trecho B e C, pela comunidade do Parauninha. Já o trecho D engloba as comunidades de Candeias e Baú. Além disso, também foi uma forma para possibilitar aos caminhantes o percurso de trechos menores para quem não tem tempo para fazer toda a trilha de uma só vez.
Trecho A: cachoeiras de Três Barras e do Peixe Cru
O trecho A é o mais curto e um dos mais fáceis de completar, sendo o eixo principal com 5,7 quilômetros. Ele se inicia na comunidade quilombola de Três Barras e finaliza na comunidade de Cubas. No percurso estão presentes as cachoeiras de Três Barras e do Peixe Cru.
A cachoeira de São Miguel, popularmente conhecida como Três Barras, tem altura aproximada de 13 metros. Ela está cravejada num paredão de 40 metros de extensão, além de formar um grande poço, propício a mergulhos. A parte de cima da queda d’água apresenta um poço comprido, formado pelo alargamento do Rio Cubas e com águas muito tranquilas. A queda na parte alta tem uma calha central onde passa grande volume de água e requer atenção redobrada devido ao risco elevado de acidentes. A vegetação do entorno é alta e densa. É o principal ponto de lazer da comunidade e é também, considerando o deslocamento no sentido do Sul para o Norte, a primeira cachoeira da rota.
A Cachoeira do Peixe Cru se encontra entre paredões rochosos de grande beleza. Para acessar a cachoeira a partir do centro da comunidade, toma-se como referência a casa da família Assis, proprietária do atrativo e quem autoriza a entrada. A trilha é, quase em sua maioria, em meio à floresta, com poucos desníveis e não oferece muitas dificuldades. Após 1,2 quilômetro, o visitante está diante da Cachoeira do Peixe Cru, a segunda cachoeira da rota, com cascata borbulhante e poço convidativo.
Trecho B: Ribeirão do Campo e Cachoeira do Tabuleiro
O trecho B é considerado difícil devido a sua altimetria e distância, por isso, exige bom preparo dos caminhantes. Por outro lado, é o trecho que permite vislumbrar belas paisagens em meio aos campos rupestres, em cotas acima dos 1 mil metros de altitude. Ao longo do percurso, é possível parar e se refrescar nas várias cascatas formadas ao longo do Ribeirão do Campo. O destaque vai para a Cachoeira do Tabuleiro, com seus 273 metros de queda. A cachoeira está inserida no interior do Parque Natural Municipal do Tabuleiro, é a mais alta do estado de Minas Gerais, considerada, por muitos, a cachoeira mais bonita do Brasil.
As Quedas do Ribeirão do Campo, na parte alta da Cachoeira do Tabuleiro, são um espetáculo à parte. Os poços e as formações rochosas impressionam e o mirante com vista para os vales e serras compõem um cenário de tirar o fôlego. As quedas do Ribeirão do Campo são um complexo de cascatas que formam o terceiro atrativo da Rota das 10 Cachoeiras. A caminhada é exigente e deve ser acompanhada por um guia de turismo, mas a beleza ímpar do lugar compensa qualquer esforço.
Formada pelas águas do Ribeirão do Campo, a cachoeira do Tabuleiro é a quarta da Rota. Ela foi considerada pelo Guia Quatro Rodas, por duas vezes consecutivas, como a mais bonita do Brasil e foi eleita uma das “7 Maravilhas da Estrada Real”. O nome da cachoeira faz referência à comunidade localizada nas proximidades. Há quem diga que a denominação está vinculada às serras que parecem tabuleiros ou aos tabuleiros utilizados no passado para o transporte de mercadorias até Conceição do Mato Dentro, ou ainda, diz respeito aos locais de plantação, os tabuleiros.
Trecho C: cachoeiras de Congonhas, do Altar e do Rabo de Cavalo
O trecho que liga Tabuleiro à Região do Parauninha é considerado de dificuldade moderada, porque parte do percurso é composta de estradas em aclive, mas sem atravessar trilhas de dificuldade técnica. Além dos atrativos naturais, esse trecho mescla a travessia por pequenas propriedades rurais, paisagens com trechos de Mata Atlântica, pastagens plantadas e áreas com vegetação campestre nativa. Três cachoeiras podem ser visitadas nesse percurso: Cachoeira de Congonhas, na região do Tabuleiro; Cachoeira do Altar e a Cachoeira do Rabo de Cavalo, essas duas últimas na região da Parauninha.
A Cachoeira do Congonhas está localizada dentro do Parque Estadual Serra do Intendente, em um afluente do Rio Preto, próximo à entrada do cânion ou boqueirão do Rio Preto, a cachoeira deságua entre grandes paredões rochosos, de aproximadamente 90 metros de altura, com uma queda principal de volume pequeno que se divide e provoca o efeito de véu.
O poço tem aproximadamente 86 metros quadrados e sua profundidade é pequena, no máximo 1,8 metro. Suas águas são frias e transparentes. Esta é a quinta cachoeira da rota. Em frente ao poço da cachoeira existem grandes lajes e a vegetação do entorno é de mata ciliar e de galeria, apresentando ainda fitofisionomias de cerrado e campos rupestres. Bromélias gigantes e Aloe vera estão presentes nos paredões.
A Cachoeira Altar é a sexta da rota e está localizada em um ambiente preservado, dentro do Parque Estadual Serra do Intendente, próximo ao topo da Cachoeira Rabo de Cavalo. Formada pelo Córrego Teodoro, possui 30 metros de altura. O nome da cachoeira faz referência ao formato dos degraus localizados na parte baixa, que faz lembrar um altar.
Já a Cachoeira Rabo de Cavalo, sétima da rota, é formada pelos córregos do Teodoro e Tributário, que são divididas em três cascatas, sendo a mais alta com 192 metros de altura. Localizada no Parque Estadual Serra do Intendente, recebeu este nome porque sua queda é impulsionada pela força do vento e ganha movimento semelhante ao de um rabo de cavalo. Possui área de estacionamento particular localizada a poucos metros da entrada do parque.
Trecho D: cachoeiras do Bocaina, da Gurita e Prainha
É o segundo maior percurso da rota e por isso considerado de moderado nível de dificuldade. Nessa parte da trilha, um dos pontos marcantes é a paisagem impressionante do vale da Parauninha, em meio aos paredões do Parque Estadual Serra do Intendente e da Serra do Funil. A hospedagem e alimentação poderão ser feitas nas hospedagens familiares localizadas ao longo do caminho ou nas comunidades de Baú e Candeias.
A Cachoeira do Bocaina possui 234 metros de queda livre, e é considerado o segundo maior “salto” de Minas Gerais. Está inserida no interior do Cânion do Peixe Tolo, de notável beleza e que se destaca na paisagem do parque. O cânion apresenta quase 4 quilômetros de comprimento, com paredões com mais de 300 metros de altura. A Cachoeira da Bocaina é a oitava cachoeira da rota.
A Cachoeira da Gurita está inserida no interior do Parque Estadual Serra do Intendente e o acesso se dá através da propriedade do senhor Milton. Na área, também há uma bela cachoeira com o mesmo nome do proprietário. Ela faz parte do complexo da Gurita, formado por três cachoeiras de aproximadamente 50 metros de altura cada, localizadas praticamente uma de frente para a outra. É a menos visitada das cachoeiras da rota, por isso, é considerada um paraíso secreto.
Por fim, a Cachoeira Prainha, localizada no Parque Estadual Serra do Intendente, próxima às localidades de Candeias e Baú, é um dos grandes atrativos naturais e um dos mais visitados. É formada no curso do Rio Roncador e sua queda forma um grande poço com uma belíssima praia de areia branca. Seu acesso é fácil e pode ser percorrido numa trilha de, no máximo, 20 minutos de caminhada a partir do eixo principal do traçado da Rota das 10 Cachoeiras.