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Me engana que eu gosto, maquininha de fazer político

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O jornalista carioca, Marcos Machado, explica que a esquerda precisa mentir para convencer, porque sua realidade é catastrófica

Marcos Machado

Se tem uma coisa que evito é a tal “teoria da conspiração”, exceto o filme de 1997 com a encantadora Julia Roberts e o impagável Mel Gibson, mas acredito, sim, na ação das forças invisíveis e dos inimigos ocultos. O mal existe e ele não dá descanso, mas não é sobre isso que vamos conversar. Acredito, também, no poder da previsibilidade científica, com raros desvios e equívocos por interpretação inadequada de dados. Essas inadequações, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) precisa, sim, explicar.

Passei boa parte da minha vida profissional de jornalista analisando informações e dados de pesquisas, além de realizar análise conjuntural para políticos da esquerda à direita. Sim, já fui até membro filiado do PT, mas essa também é outra história.

O ponto é que hoje quase mais nenhum profissional de imprensa faz análise de dados para formatar a realidade e detectar inconsistências nas versões. É um trabalho que exige o exercício do pensamento e não do achamento. E, cá pra nós, as redações estão infestadas de papagaios apaixonados que perderam, ou nunca tiveram, essa capacidade.

Feito isto, posso afirmar, com base na análise dos dados disponíveis, que há, sim, o que desconfiar do resultado da eleição para Presidente. Isto, porque os números apresentados pela maquininha de fazer político não fazem sentido algum. (A gente não pode criticar a urna eletrônica, senão o Alexandre manda prender, então a gente vai usar esse pseudônimo, mas não conte para ninguém).

A fim de não ficar enfadonho e longo, vamos pegar só um dos estados da região que garantiu a eleição de um candidato, o da esquerda, que não pode, ainda, sair às ruas porque sofre agressões verbais do povo. Foi exatamente a região que mais recebeu benefícios do atual governo e, até então, postulante à reeleição, o Nordeste.

O estado de Sergipe, elegeu, apenas, isto mesmo, apenas um deputado estadual do PT (são 24 eleitos) com insignificantes 18,5 mil votos e 14 de direita (os outros são considerados de centro ou centro-esquerda), não elegeu nenhum deputado federal do PT, apesar de ter feito dois de centro-esquerda para as oito vagas, e o senador eleito é de direita. O candidato ao governo pelo PT também perdeu.

Com o perfil majoritariamente, e cientificamente comprovado pela maquininha de fazer político, de direita escorregando para o centro, como pode o eleitorado sergipano dar quase 70% dos votos para o candidato à Presidência pela extrema-esquerda? Alguém me convença, por favor.

O eleitor sergipano rejeitou as ideias e os nomes do PT, ou extrema-esquerda, e aqui, agora, fala o meu eu psicanalista e cientista político prático, e é impensável que tenha mudado de ideia, em larga escala, em curto prazo. Isto, cientificamente, não acontece, exceto se por obra de alguma possessão hipnótica que tenha alterado o inconsciente coletivo, o que é improvável.

Vamos analisar, para comparar, os resultados de Brasília-DF, que dispõe das mesmas proporções de um senador, oito federais e 24 deputados distritais (análogo à estadual). Em Brasília, o PT elegeu um deputado federal (para oito) e três distritais, além do Psol que fez dois distritais e os partidos são unha e carne. Os outros eleitos são de direita ou centro. A senadora eleita é de direita, e o candidato a presidente da direita teve 58,81%. O da esquerda ficou com 41,19%, atendendo a uma proporcionalidade lógica da tendência comportamental do eleitor brasiliense.

As pessoas, e os grupos, seguem padrões de comportamento de acordo com suas crenças e valores, não mudam drasticamente sem que haja um motivo forte e, mesmo assim, é uma mudança gradativa.

Nos anos 1970, ao perceber esse padrão, o FBI desenvolveu mecanismo de análise comportamental, inicialmente para identificar e prender assassinos em série, como em O silêncio dos inocentes (1991), com a belíssima Jodie Foster e o sensacional Anthony Hopkins. A análise comportamental, ou padrão, de grupos também se faz com base em informações e não percepções, como o de torcidas organizadas etc.

É concebível pensar que alguém tenha cometido algum erro na hora de somar os valores no setor da Contabilidade (o outro nome pode dar problema), ao utilizar a equação (algoritmo é perigoso dizer) de forma aleatória, sem levar em conta o todo das informações pertinentes ao perfil coletivo do eleitor, mas quem vai poder comprovar isso? A maquininha não emite o comprovante e só mostra o que ela registrou, não o que foi digitado. Sempre questionei isso, desde a primeira eleição com elas. Ninguém sabe o que acontece dentro da caixinha e, pra mim, a bactéria está nela. Assim, fica até fácil entender a ojeriza que alguns deuses do Olimpo têm à essa ideia de transparência democrática.

Como em “Arquivo X”, eu quero acreditar, mas não consigo. Sempre tive enorme dificuldade para compreender o que não faz sentido. Tem caroço nesse angu, diria meu saudoso e sábio pai. Quem poderá esclarecer e nos socorrer?

*Jornalista profissional diplomado, pós-graduado, editor do portal www.doplenario.com.br, psicanalista, adesguiano, analista sensorial, analista de conjuntura, cidadão brasileiro.

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