Das mais de 8.400 espécies de anfíbios conhecidas no mundo, 1.188 estão no Brasil. Destas, 1.144 são espécies de anuros, tornando o Brasil o país com a maior diversidade desse grupo de anfíbios no mundo, segundo o Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Répteis e Anfíbios (RAN). O órgão que pertence ao Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) ressalta que “essa riqueza nos impõe o dever de proteger essas espécies”. Para que isso aconteça, primeiramente, é importante saber diferenciá-las.
Dentro da ordem Anura estão várias famílias de sapos, rãs e pererecas cujas espécies estão em todos os continentes, com exceção da Antártica, onde anfíbios não conseguem sobreviver diante de temperaturas tão geladas. “A principal diferença é que os sapos têm a pele mais seca e preferem ficar na terra. As rãs podem ser macho ou fêmea e gostam de ficar perto de lagoas, assim como as pererecas, que costumam viver em árvores e escalar paredes por terem discos adesivos na ponta dos dedos. Já as semelhanças é que todos os anuros respiram pela pele e pelo pulmão e sugam água pela região inguinal (abaixo da barriga)”, esclarece Carlos Jared, que é diretor do Laboratório de Biologia Estrutural do Instituto Butantan.
Os sapos são membros da família Bufonidae (lê-se “bufonide”), que, em todo o mundo, contém cerca de 600 espécies dentre 52 gêneros. A maior família de rãs que existe é a Ranidae (lê-se “ranide”), cujas espécies ocorrem quase que exclusivamente no hemisfério norte. No Brasil não há este tipo de anfíbio na natureza. As rãs servidas em restaurantes ou em casa são da espécie Aquarana catesbeiana, mais conhecidas como rã-touro, que vêm de criadouros de rãs, ou seja, fora da natureza. Esses animais são originários dos Estados Unidos e do Canadá, portanto exóticos em relação à nossa fauna.
“Os portugueses introduziram o termo ‘rã’ aqui no Brasil para um bicho que não é rã de verdade, mas é semelhante. As nossas rãs, chamadas de jias ou caçotes, pertencem à família Leptodactylidae, cujas espécies são comuns na América do Sul e Central”, afirma Carlos Jared.
As pererecas vivem em árvores e a maioria é da família Hylidae (lê-se hilide), embora haja outras tantas com diferentes espécies. O nome perereca tem origem na palavra pere’reg (“ir aos saltos”) em tupi.
Apesar de às vezes causarem medo ou repulsa, a presença de rãs, sapos e pererecas é um indicador de um ecossistema saudável, já que eles conseguem sobreviver somente em lugares não poluídos e são sensíveis às mudanças de ambiente.
“É mais comum encontrá-los próximos a locais úmidos como perto de poças d’água, máquinas de lavar, banheiros ou ambientes com água. Se encontrar um anuro, não tente tocar nele. O animal estará mais assustado que você e tentará fugir, voltando para um local onde não há humanos”, esclarece o pesquisador.
Sapos (animais terrestres)
Tudo começa quando sapos machos e sapos fêmeas se encontram na beira da lagoa para acasalarem. As fêmeas botam seus ovos em forma de fita dentro da água. Quando eclodem, se transformam em girinos que nadam até nascerem as patas, trocando o lar pelo ambiente terrestre.
Mais corpulentos e com patas traseiras mais curtas e robustas, os sapos costumam caminhar em vez de saltar e pular. Uma característica comum entre os sapos é a presença de duas grandes glândulas atrás da cabeça, chamadas de glândulas parotoides. É nelas que fica o veneno usado em quem tenta mordê-lo.
O sapo não tem meios de expelir esse veneno sozinho. É o próprio predador ou agressor que aciona esse veneno, através da pressão da mordida, levando os jatos de veneno na boca. Apesar de ser um animal com veneno, o sapo não representa nenhum perigo em quem tocar nele porque a maioria dos venenos dos anfíbios é inofensiva para os humanos. Mesmo assim, é recomendável sempre lavar bem as mãos com água e sabão após manusear um sapo. Fica a dica: é mito dizer que tocar na pele do sapo causa “cobreiro”, nome popular do vírus herpes-zóster.
Os sapos, fora do período de reprodução, preferem ficar sozinhos, com um cardápio variado de alimentos – principalmente insetos. Mas, por terem a pele seca e rugosa, precisam de fontes de hidratação para manterem o metabolismo funcionando. Por isso é comum encontrar sapos em poças de água da chuva ou próximos a máquinas de lavar. Os sapos somente retornam para a lagoa para encontrar fêmeas para reprodução, quando o ciclo de vida começa novamente.
Rãs (animais semiaquáticos)
As rãs passam mais tempo na água do que os sapos, sendo considerados animais semiaquáticos. Quando se deparam com alguma ameaça em terra, saltam com toda sua energia para a água, onde permanecem nadando. Como as rãs passam mais tempo na água ou geralmente ficam mais perto dela quando estão em terra, sua pele permanece úmida e com aspecto mais viscoso e brilhante.
Por terem patas longas e fortes, elas são exímias saltadoras. Mas para saltarem com grande amplitude e rapidez, as rãs gastam muita energia. Quando precisam de mais de três saltos de uma vez, podem até entrar em estafa, tamanho o trabalho.
Um mito comum em relação às rãs é dizer que são “mulher do sapo”. Na verdade, há rã macho e rã fêmea, assim como sapo macho e sapo fêmea. As rãs botam ovos na água, mas de forma diferente dos sapos.
Os sapos, rãs e pererecas usam sons específicos (chamados de “canto”) para o encontro durante a época da reprodução. É sempre o macho que emite o canto, atraindo a fêmea. Cada espécie tem um canto próprio, característico da espécie, que é o meio de comunicação do casal.
Pererecas (animais arborícolas)
Menores do que os sapos e rãs, as pererecas são mais leves, têm pele muito úmida, lisa e brilhante, e pernas finas e longas. Elas se diferenciam dos demais anuros por terem discos adesivos na ponta dos dedos, semelhantes a ventosas. Essas pernas longas permitem a elas dar amplos saltos e escalar paredes e árvores.
As pererecas habitam quase todo o planeta, especialmente locais úmidos, perto de riachos e córregos onde depositam seus ovos – os filhotes (girinos) vão se desenvolver na água até se tornarem adultos e irem para a terra. No Brasil existem mais de 350 espécies de pererecas, sendo a da espécie Boana raniceps uma das mais comuns.