20.4 C
Brasília
quarta-feira, abril 30, 2025

ANUNCIE

×
Logo SimpleAds

Nem o amor resiste ao erro gramatical

Marcos Machado

Em tempos de paixões instantâneas, onde relacionamentos duram menos que uma atualização de status, a Universidade de Tilburg, na Holanda, resolveu jogar mais uma pá de cal sobre o romantismo cibernético: erros gramaticais fazem você parecer menos atraente. Sim, nem o emoji certo vai salvar sua paquera se você trocar a conjunção, “mas” pelo advérbio “mais”, ou insistir em escrever “concerteza” tudo junto, e “agente” ao invés de a gente, ou ainda, o pior de todos: “pra ‘mim’ fazer”.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

O estudo publicado em outubro de 2019 analisou o comportamento de mais de 800 usuários de um site de relacionamentos. A missão deles era simples: avaliar perfis falsos, alguns com erros de ortografia e outros devidamente revisados. O resultado? Perfis com erros foram vítimas de um verdadeiro “apagamento afetivo”. Atração em queda livre, sem dó, nem piedade.

Não se engane achando que o apocalipse ortográfico é unânime: apenas um terço dos participantes notaram os erros. Ou seja, dois terços dos usuários provavelmente estão muito ocupados decidindo sobre o filtro para perceber se você trocou “sessão” por “seção”.

O que realmente se destaca nesse estudo é a lógica de fundo: a gramática, ao contrário do que se pensa, não é apenas uma formalidade enfadonha imposta pela escola. Ela virou marcador social, símbolo de inteligência, atenção e, pasmem, higiene emocional. A ortografia virou um perfume: se for ruim, ninguém vai querer ficar por perto.

Bem-vindo ao romance sob vigilância da gramática seletiva

Uma das autoras da pesquisa, Tess van der Zanden, explica que os erros de linguagem são percebidos como sinal de desleixo e desatenção. “Se um perfil tem erros, percebemos o proprietário menos inteligente e, portanto, também menos atraente”. Em resumo, se você quer parecer um gênio romântico, talvez comece revisando seus tempos verbais antes de comprar bombons, ou será que chocolate supera a redação?

Curiosamente, o estudo também mostra que a linguagem informal teve o efeito oposto: aumentou a atratividade dos perfis. Ou seja, você pode dizer “vc” ao invés de “você”, mas se errar “há” com “a”, sua chance de amor evaporou. Bem-vindo ao romance sob vigilância da gramática seletiva.

Talvez o mais romântico dos gestos seja passar um corretor ortográfico antes de dar bom dia

Diante dessa constatação, estamos namorando pessoas ou avaliando currículos afetivos? A aparência ainda importa, claro, mas agora, tudo indica que ela começa na pontuação. Não basta ter um sorriso bonito se o seu “porque” começa uma frase interrogativa.

Em tempos onde algoritmos decidem quem merece ser visto e palavras mal escritas decidem quem merece ser amado, talvez o mais romântico dos gestos seja passar um corretor ortográfico antes de dar bom dia.

Ou então, quem sabe, a gente só aceite que a paixão moderna é isso aí: uma equação improvável entre carisma, compatibilidade e gramática. Boa sorte tentando corrigir isso com flores ao invés de um corretor.

*Jornalista profissional diplomado, editor do portal Do Plenário, escritor, psicanalista, cientista político ocasional, analista sensorial, enófilo, adesguiano, consultor de conjunturas e cidadão brasileiro protegido (ou não) pela Constituição Brasileira

relacionados

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Fique conectado

667FãsCurtir
756SeguidoresSeguir
338SeguidoresSeguir
- Publicidade -spot_img

Últimos artigos

publicidade