O flagrante de uma onça-pintada em pleno cerrado brasiliense deixou os biólogos do Instituto Brasília Ambiental surpresos. Isso porque a espécie, considerada ameaçada de extinção pelas autoridades, não era vista na região há aproximadamente 30 anos. O registro foi possível graças ao Programa de Monitoramento de Médios e Grandes Mamíferos do Brasília Ambiental, instituído em 2014.
Desde então, a iniciativa acompanha a fauna na Estação Ecológica Águas Emendadas (Esecae). Atualmente, o local conta com 12 câmeras de monitoramento, chamadas de câmeras trap, mas a expectativa é expandir e conhecer quais são as espécies existentes em outras unidades de conservação. Para isso, o instituto vai adquirir 15 equipamentos fotográficos a serem instalados no Parque Ecológico dos Pequizeiros, em Planaltina, e na Área de Proteção Ambiental de Cafuringa, na região do Lago Oeste.
O monitoramento será ampliado graças à parceria recentemente firmada entre o Governo de Brasília-Distrito Federal e a Organização da Sociedade Civil (OSC) Jaguaracambé. A OSC é especializada em conservação da biodiversidade do Cerrado e visa o intercâmbio científico, didático, educacional e cultural relativos a projetos de pesquisa de animais encontrados nas unidades de conservação em Brasília e na Região Integrada de Desenvolvimento do Distrito Federal e Entorno (Ride).
Por meio do monitoramento, a equipe técnica, composta por pesquisadores, zootecnistas, biólogos e veterinários, pode traçar políticas públicas eficientes de proteção das espécies da fauna nativa do Cerrado. De acordo com a bióloga da Gerência de Fauna do instituto, Marina Motta de Carvalho, a tecnologia representa um avanço nas estratégias de preservação do meio ambiente.
“São espécies que precisam de extensa área de vida para sobreviver. Esse programa nos auxilia a identificar quais áreas há ocorrência desses animais, quais espaços são utilizados como corredor ecológico, como a fauna está se deslocando pelos fragmentos do Cerrado que temos no DF. O monitoramento também ajuda a identificar áreas prioritárias de conservação quando a gente encontra uma espécie ameaçada de extinção”, afirma a bióloga.
Para o veterinário e gestor de projetos da OSC, Bryam Amorim, a equipe técnica é especializada em análise de fauna nativa e vai colaborar com dados científicos para repassar ao Brasília Ambiental: “É importante para gente desenvolver trabalhos como esse porque a OSC já realizava essa pesquisa com a fauna do DF. A OSC possui uma expertise nessa área e a parceria vem para consolidar esse trabalho e auxiliar órgãos com informações relevantes e necessários sobre a nossa biodiversidade”, pontua.
Amostragem
As armadilhas são instaladas em locais onde são identificados pontos com rastros, como fezes e pegadas. O equipamento permite realizar filmagens dos animais e, por meio das imagens, é possível identificar a espécie e até individualizar o animal.
O uso da técnica possibilita estimar a densidade populacional e abundância das espécies que possuem algum tipo de atributo individual, como por exemplo, as rosetas da jaguatirica.