Pesquisa feita em 2019 para avaliar as condições das calçadas mantidas diretamente pelo poder público revelou que nenhuma das 27 capitais brasileiras conseguiu chegar à média mínima aceitável de oito pontos numa escala de zero a dez. Mesmo as médias mais altas ficaram ainda abaixo de sete. Os dados foram apresentados pela arquiteta Marília Hildebrand, representante do Portal Mobilize, em audiência pública da Subcomissão Temporária sobre Mobilidade Urbana, ligada à Comissão de Direitos Humanos (CDH). A reunião foi realizada na manhã dessa sexta-feira (6).
A Campanha Calçadas do Brasil 2019 é uma iniciativa de organizações que lutam para melhorar a “caminhabilidade” nas cidades brasileiras. A lista de problemas encontrados é extensa e vai desde buracos à ocupação indevida de espaços. As ações de concessionárias de energia elétrica, comunicações e saneamento, que destroem e não recompõem os pavimentos também foram notadas.
Ranking das calçadas | |||
1º São Paulo: 6,93 | 9º Boa Vista : 6,13 | 17º Aracaju: 5,35 | 25º Cuiabá: 4,79 |
2º Belo Horizonte: 6,84 | 10º Rio de Janeiro: 6,12 | 18º Porto Velho: 5,34 | 26º Fortaleza: 4,53 |
3º Florianópolis: 6,73 | 11º Curitiba: 6,02 | 19º Rio Branco: 5,28 | 27º Belém: 4,52 |
4º Porto Alegre: 6,53 | 12º Recife: 5,92 | 20º Macapá: 5,13 | |
5º Goiânia: 6,39 | 13º Vitória: 5,84 | 21º Maceió: 5,04 | |
6º Campo Grande: 6,29 | 14º Natal: 5,78 | 22º Teresina: 4,92 | |
7º Brasília: 6,25 | 15º Manaus: 5,71 | 23º São Luís: 4,89 | |
8º João Pessoa: 6,23 | 16º Palmas: 5,46 | 24º Salvador: 4,86 |
— Os resultados mostram que todas as capitais ficaram entre ruim e regular. A nota mais alta, obtida por São Paulo, foi 6,93, que não chega a ser uma nota boa. Belém, que ficou na pior posição, obteve 4,52. A média nacional ficou em 5,71. Ou seja, nem a capital paulista, que ficou em primeiro, teve uma nota aceitável — analisou Marília Hildebrand (veja os números no quadro abaixo).
Ela disse ainda que cultura da mobilidade voltada somente ao carro penaliza as calçadas em diversos aspectos.
— O mais grave desta observação é que todos os 835 locais avaliados estão sob responsabilidade direta dos governos, em seus três níveis. São escolas, hospitais, creches, mercados, terminais de transporte, estádios e outros equipamentos que deveriam ser exemplares na acolhida aos usuários, desde as ruas próximas. Se o poder público não se adapta aos critérios mínimos, como esperar que o morador cuide adequadamente de sua calçada? — indagou.
Estudos
O integrante da Organização Andar a Pé Wilde Cardoso Gontijo Júnior citou uma série de benefícios — comprovados por pesquisas — gerados pela caminhada. Ele lembrou que andar a pé é bom para a saúde do ser humano, pois o tira do sedentarismo; é bom para as cidades, pois desonera o transporte coletivo, humaniza o espaço urbano e reduz a poluição; e ainda traz vantagens econômicas, pois os setores de comércio e serviços ganham com a circulação de pessoas nas ruas.
— Andar a pé pode não estar na moda, mas se entrar todo mundo vai querer. Existem vários estudos que comprovam as vantagens de usar o próprio corpo para o deslocamento. Temos que reverter todo esse ambiente contrário ao mobilismo — afirmou.
Senado
A consultora legislativa Karin Kässmayer, gestora do Núcleo de Coordenação de Ações Socioambientais do Senado, apresentou detalhes do Plano de Acessibilidade Casa, que está na terceira versão, com vigência de 2019 a 2021. São seis eixos temáticos, englobando infraestrutura; acesso à informação; mobilidade; gestão de pessoas; educação para acessibilidade e gestão para acessibilidade.
Ela citou uma série de ações em andamento, que vão desde obras nos prédios físicos à aquisição de cadeiras de rodas, à capacitação de servidores para lidar com pessoas com deficiência e à contratação de estagiários e trabalhadores com deficiência.
No comando da reunião, o senador Paulo Paim, presidente da CDH, que tem funcionários com deficiência em seu gabinete, disse ser testemunha das ações que vêm sendo implementadas e afirmou que o Senado tem evoluído muito nessa área.
A audiência desta sexta-feira foi realizada a pedido da senadora Mara Gabrilli (PSDB-SP) e do senador Acir Gurgacz (PDT-RO). Também participaram o consultor legislativo da Câmara dos Deputados Frederico de Moura Carneiro; o chefe de gabinete da Secretaria Nacional de Mobilidade do Ministério do Desenvolvimento Regional, Higor de Oliveira Guerra, e a coordenadora da Comissão de Acessibilidade do Superior Tribunal de Justiça (STJ), Simone Pinheiro Machado de Souza.
A Subcomissão Temporária Sobre Mobilidade Urbana foi instalada em maio deste ano, por iniciativa de Gurgacz, para debater a situação do tema nos municípios brasileiros.
Veja aqui as apresentações dos convidados.
Alguns dos principais problemas encontrados |
• Ações de concessionárias de energia, comunicações e saneamento, além dos órgãos de trânsito, que destroem e não recompõem pavimentos |
• Falta de pintura de faixas de pedestre, inclusive no caso das operações tapa-buracos |
• Falta de manutenção em geral |
• Falta de manutenção na iluminação das faixas de pedestres existentes |
• Rampas de acessibilidade inexistentes ou sem manutenção |
• Peças de piso tátil soltas, faltantes e, algumas vezes, isoladas em determinados equipamentos |
• Falta de mobiliário urbano, como lixeiras e bancos |
• Semáforos sem sinalização sonora, além de botoeiras que não funcionam |
• Excessos de postes dificultando a passagem (São Paulo, Rio de Janeiro) |
• Tampas de inspeção desniveladas em relação ao piso |
• Ocupação indevida de calçadas |
• Calçadas com larguras irregulares e estreitamentos |
• Raízes de árvores que extrapolam a regularidade do piso |
• Utilização de material inadequado e irregular na pavimentação |
• Falta de sinalização em saídas de garagens e áreas de circulação de veículos próximas aos edifícios |
• Falta de continuidade no trajeto dos pedestres |
Fonte: Relatório Calçadas do Brasil 2019