Marcos Machado
Passado um dos períodos mais sombrios da nossa história, o Brasil ensaiou um passo rumo à redenção. Após mais de uma década de desmandos, corrupção desenfreada, estatismo sufocante e aparelhamento ideológico das instituições, o impeachment de Dilma Rousseff representou um respiro momentâneo de esperança. Como já se tornou um triste clichê em nossa história, a incapacidade crônica do brasileiro de sustentar o próprio progresso nos jogou de volta ao abismo do retrocesso.
Há um fenômeno que bem define o ciclo maldito que aprisiona este país: a síndrome do caranguejo. Nós nos movemos apenas quando empurrados pela maré da realidade econômica e social, mas, assim que surge a chance de avançar, retrocedemos voluntariamente, como se fôssemos guiados por um instinto autodestrutivo.
O período pós-PT trouxe sinais de que o Brasil poderia finalmente sair da sua eterna infância política. A perspectiva de uma gestão mais austera, com redução da carga tributária, cortes no gasto público e investimentos em infraestrutura, deu a esperança de que o país estava, finalmente, rumando à maturidade, mas essa esperança foi um fogo-fátuo.
O Brasil só sairá deste ciclo infernal quando o brasileiro comum perceber que seu maior inimigo não é um partido ou um político em específico, mas sim sua própria mentalidade de servidão
A mentalidade parasitária da classe política e a passividade de um povo acostumado à esmola estatal falaram mais alto. O que se viu foi o ressurgimento da velha praga do fisiologismo, da demagogia e do populismo barato, com a volta de uma administração irresponsável e perdulária. Impostos aumentaram, gastos públicos explodiram e a infame prática do “toma lá, dá cá” no Congresso Nacional se consolidou como norma.
O Brasil parece fadado à sua tragédia cíclica: basta um governo prometer responsabilidade fiscal e gestão eficiente que logo depois vem outro para desmantelar o que foi feito. O país é refém de um eleitorado manipulado por uma imprensa militante, intelectuais de araque e grupos de interesse que veem o Estado não como um meio para garantir ordem e prosperidade, mas como tesouro a ser saqueado.
O que esperar? Nada diferente do que já conhecemos: mais impostos, mais controle estatal, menos liberdade econômica e a perpetuação de uma mentalidade assistencialista que aprisiona o povo na miséria. O Brasil só sairá deste ciclo infernal quando o brasileiro comum perceber que seu maior inimigo não é um partido ou um político em específico, mas sim sua própria mentalidade de servidão. Até lá, seguimos como caranguejos na areia, iludidos pelo movimento das ondas, mas sempre retornando ao mesmo buraco.
*Jornalista profissional diplomado, editor do portal Do Plenário, escritor, psicanalista, analista sensorial, adesguiano, consultor de conjunturas e cidadão brasileiro protegido (ou não) pela Constituição Brasileira